Idéias
contagiosas
* Por Pedro J. Bondaczuk
O medo, a tristeza e a ira são
altamente contagiosos. Espalham-se, rapidamente, da pessoa que os originou, e
afetam aos desavisados que estiverem ao redor, caso não se previnam. São
sentimentos que podem ser comparados às mais mortais gripes, como a Espanhola,
por exemplo – que no início do século XX, dizimou multidões, mundo afora
(estima-se que tenha matado por volta de 20 milhões de indivíduos, entre os
quais o presidente eleito Rodrigues Alves, que não pôde assumir a presidência
para seu segundo mandato, no Brasil). Ou como as mais recentes, a aviária e a
suína, que desde 2000 vêm freqüentando, assiduamente, as manchetes.
Quem fez essa afirmação,
aparentemente polêmica, foi um especialista no comportamento humano, o
psicólogo social, sociólogo (e, nas horas vagas, físico amador, autor de “A
evolução da matéria”, que esgotou 12 edições apenas na França), o francês
Gustave Le Bon.
Ele escreveu, no livro “As
opiniões e as crenças”: “Todas as manifestações da vida psíquica podem ser
contagiosas, mas são, especialmente, as emoções que se propagam desse modo. As
idéias contagiosas são elementos afetivos”.
Compete-nos, pois, nos
imunizarmos contra esses poderosos “vírus”, que podem ser comparados ao HIV ou
ao do ebola, e tendem a nos causar sérias aflições e a comprometer nossa saúde
(física e mental) e alegria de viver. Mas é indispensável motivar outras
pessoas para que também o façam e, dessa maneira, se possa evitar eventual
“epidemia”, ou quem sabe “pandemia” de medo, tristeza e ira (entre outras
emoções destrutivas).
E quais seriam as “vacinas”
ideais para a prevenção desses males? Várias! A mais simples é evitar pessoas e
ambientes em que imperem esses sentimentos. Como isso nem sempre é possível,
dadas circunstâncias que fogem do nosso controle, compete-nos aplicar antídotos
específicos contra cada um desses “venenos” da alma.
Para combater o medo, por
exemplo, nada melhor, óbvio, que a coragem. Mas para que ela funcione, tem que
ser temperada pela prudência. Dizer que um indivíduo é prudente não é o mesmo
que afirmar que ele seja medroso. Já o sujeito imprudente não é, como alguns
desavisados pensam, necessariamente corajoso. Está mais para suicida em
potencial (para não dizer outra coisa) do que para alguém que não se deixa
dominar pelo medo.
Já o antídoto para a tristeza (o
que, também, é para lá de óbvio) é a alegria. Mas não aquela falsa, forçada,
não natural, que qualquer um percebe, pelo simples olhar no rosto, que não
passa de simulação. É a que brota, espontânea e vigorosa, da alma, fruto de uma
visão positiva da vida. É a que emerge do hábito de apreciar a beleza ao redor.
É a que deriva da gratidão pelo que se tem e se é, sem, contudo, deixar de
lutar pela evolução, quer material, quer espiritual. Mas não se pode e nem se
deve fazer disso nenhuma obsessão. E, caso não se consiga atingir os objetivos
a que você se propôs, é saber perder, sem ressentimentos, e partir para outra,
com coragem e entusiasmo.
Difícil agir assim? Certamente!
Mas é melhor do que mergulhar de cabeça na tristeza e contaminar, com ela,
todos os que estiverem ao redor. Esse sentimento ruim é um dos mais difíceis
(senão o mais árduo) de se combater. Portanto, muito cuidado com ele!
Finalmente, o modo ideal de
neutralizar a ira é aprender a se controlar. É respeitar as atitudes e opiniões
alheias – por mais estapafúrdias e erradas que sejam – às últimas
conseqüências, mas sem aderir a elas e sem permitir (mas com serenidade) que
outros no-las imponham. É entender as fraquezas, as falhas de caráter e as
contradições alheias e não querer impor a ninguém, a ferro e fogo, nossa
vontade.
Felizmente, conforme Le Bon
também constatou, sentimentos e idéias positivos igualmente tem alto poder de
contagiar (embora os primeiros sempre tenham primazia sobre os segundos). Desse
“contágio”, como a própria intuição nos indica, não é inteligente e nem
construtivo se fugir. Pelo contrário: essa “contaminação” deve ser buscada,
sempre e sempre, de maneira tenaz e incansável, porquanto implica em nossa evolução
espiritual e é o caminho mais seguro para a felicidade, nossa principal
obrigação no mundo. Se formos felizes, “contagiaremos”, certamente, muitos
outros a o serem também.
Fé, esperança, bondade,
solidariedade, alegria e, acima de tudo, amor, entre tantas e tantas emoções
positivas e benignas, devem preencher cada espaço eventualmente vazio do nosso
cérebro. Não devemos permitir que haja um só deles livre para a infiltração
desses “vírus” malignos e com imenso potencial de contágio.
Sei que não estou afirmando nada
de novo, revolucionário ou sequer original (tanto que me limito a esclarecer
constatações feitas por Le Bom, que tratou, em suas obras, de questões como o
“efeito manada”, que tive a oportunidade de comentar em outra crônica e
“psicologia das massas”) e nem essa é a minha intenção. O que pretendo é chamar
sua atenção, paciente e fiel leitor, para o aspecto contagioso de idéias e,
sobretudo, de emoções, que muitos ainda não se deram conta e outros tantos
sequer acreditam que ocorra.
* Jornalista, radialista e
escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes
Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular
onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio
Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia”
(ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal”
(contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com.
Twitter:@bondaczuk
Voltou, e muito bem, ao seu tradicional estilo otimista, baseado em outro autor. Gostei de usar o termo "funciona" para a coragem. Ficou bom.
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