Viagem com Gregório de Mattos
* Por Paulo Bertran
“Para Ana, a Miranda, a outra amiga de Gregório de Mattos”
I
Gregório de Mattos, com mais de cinquent´anos
abandonou o foro corrupto soteropolitano
e meteu-se a dissertar
pelas fazendas do Recôncavo
da Bahia:
... Que o melhor estado, cuido
é aquele em que o descuido
vem a ser todo cuidado...
E lá ia descuidado entre aves cheirosas
e flores ressonantes o subversivo aclamado
Das ladroíces e putarias da Bahia,
vendendo-se virgens de 12 anos a mil-réis.
Tomara esposa o velho sátiro, mas infeliz:
... Não sinta dor e tome o desengano,
Que um dia é eternidade de Beleza...
Deitara mão o freirático e putanheiro
a uma dama mole e fria.
E já do reino mandaram-no
ao negro desterro de Angola,
ele que já vivia
nas casas de ignorantes senhores,
de mínguas de trovador.
E morre: “O Bem que por ser Mal
motiva o dono...
O Mal que sem ser Bem apressa a Morte...”
II
Ah, meu Gregório de Mattos, que a ser o mal dos bispos
quanto bem aspiras,
do livre ar dos ociosos e danados de outros tempos.
Porque eras livre – libere dicto –
E não teu ignorante bispo:
“Feliz mil vezes tu, pois começaste
a morrer desde que nasceste,
para ter vida agora que expiraste...”
Ó tu, libere dicto, proteja-nos
dos homens deste tempo...
É de saber-se que mis outros
conservaram-lhe as rimas
nos códices ensebados... de tantas mãos de liberdade...
III
Nunca e nada publicou Gregório de Mattos
e terem-lhe guardadas as poesias, os outros,
era como guardar-lhe a poesia em rosas
e a chama da rebeldia,
de tempos muito maus e Aires corruptos.
Que a mudez canoniza bestas feras.
Te copio, puta poeta.
De noite vou tomar fresco
e vejo em teu epiciclo
a lua desfeita em quartos
como ladrão de caminhos.
• Poeta e historiador goiano, autor do livro “Sertão do campo aberto”, Verano Editora.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
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