Azambujanra
e a mulata da Mangueira
* Por José Calvino
Comentei com Azambujanra que o conto “Clotilde viu
fantasma?, de Pedro Bondaczuk, publicado no Literário em 07 do corrente mês era
muito bem escrito. Esperamos confiantes a sua edição, que despertou muito o
nosso interesse. Falando em sonho, desfiles, Palácio do Samba da Mangueira etc,
na conversa fiquei impressionado com a história da mulata da Mangueira contada
por Azambujanra:
Em 1980, Azambujanra com seus 33 anos (idade de
Cristo!) foi ao Rio de Janeiro, na semana pré-carnavalesca. Numa certa tarde
linda, na Cinelândia, Azambujanra resolve tomar uns chopes no famoso Amarelinho
Bar, todo trajado de branco, chapéu tipo panamá (comprado em Caruaru-PE), de
alpargatas brancas (parecia um fazendeiro), barba preta com uma mecha branca na
parte do queixo, começou a namorar uma mulata linda de cabelos trançados num
estilo africano, cada trança com bolinhas de todas as cores. Ela já tinha
diante de si uma pilha de cartões de chopes. No início até pensou que fosse um
travesti, mas na verdade se tratava de uma passista que tinha o samba na veia e
desfilava na Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Entrando em
contacto com a mulata, pois era vizinho de mesa, combinaram dançar no Bola
Preta, que fica atrás do dito bar. Dançaram a noite toda e pela manhã brincaram
no Cordão da Bola Preta. Sendo a maior festa popular do planeta, marcaram um encontro
para o segundo dia de carnaval no mesmo bar.
No sábado Azambujanra recebe um chamado urgente,
voltando para o Recife sem no entanto comunicar o seu regresso. Assim, faltou
ao encontro com a dita mulata. Passados os anos, isto é, uns quinze anos, não
tinha como se comunicar e resolveu rever a sua mulata, que não lhe saia da
lembrança.
1995, no Amarelinho Bar. Naquela noite, os garçons
não eram os mesmos e perguntando aos novatos se conheciam a passista da
Mangueira, esses lhe informaram que já ouviram falar da dita cuja, mas que
seria fácil encontrá-la no morro. Perguntado pelo seu nome, que havia
esquecido, disseram chamar-se Glorinha (nome fictício). Azambujanra ao subir o
morro lembrava a dança no Bola Preta...
- O que ela vai dizer quando me vir, será que vai
me reconhecer?
Lá estava Glorinha, obesa, ensaiando no Palácio do
Samba. Não acreditou ser a mulata que havia dançado e brincado no Cordão da
Bola Preta. Agora, na ala das baianas.
- Não é possível! Não estou sonhando...
Decepcionado, assim mesmo criou coragem e resolveu
enfrentar aquela situação, dirigindo-se a ela:
- Glorinha?
- Eu nunca te vi, cara!
- Rapaz!!!
Não podia imaginar. E, como diz o ditado popular: “Quando a cabeça não pensa, o corpo padece”.
*Escritor, poeta e teatrólogo. Blog
Fiteiro Cultural – http://josecalvino.blogspot.com/
"Nunca te vi, sempre te amei". A vida em tempos futuros nos reserva decepções, mas também alegrias em rever certas almas. É por isso que digo: fico velha, mas não fico obesa e nem loira.
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