Em busca do papel
Os
pressupostos em que se baseia a civilização não resistem à mínima
análise. Disfarçada sob uma tênue camada de verniz civilizatório,
o que ainda impera é a lei da selva: a prevalência do mais forte
sobre o mais fraco. A riqueza é o disfarce que se usa para
dissimular a força bruta. Hoje não é o indivíduo com maior massa
muscular ou mais perito no manejo de armas o que prevalece sobre os
que lhe são mais frágeis ou indefesos. É o rico. É o que pode
"comprar" essa montanha de músculos, ou essa máquina de
coagir e matar, para impor e assegurar os seus interesses. E a
maioria, consciente ou inconscientemente, apoia tal sistema ou pelo
menos não se lhe opõe como deveria. A sociedade atual, tirando os
recursos tecnológicos que facilitam a vida de milhões (vedados a
dois terços da humanidade, que vegetam sob o espectro da fome, sem
acesso à educação, moradia, saúde e segurança), é a reprodução
fidelíssima do inferno, pintado por furibundos pregadores do passado
(e alguns atuais) como castigo àqueles que não seguissem os dogmas
que pregavam.
Todavia,
em treze milênios de civilização, o homem ainda não se
conscientizou do seu verdadeiro papel, "brincando" de
viver, transformando o mundo em um circo de horrores, onde imperam o
crime, a violência (física e principalmente social) e o desmedido
egoísmo. No fundo, bem no íntimo da consciência, todos sabemos que
os paradigmas que norteiam as relações humanas são errados. No
entanto... relutamos em abrir mão deles ou nos insurgimos contra a
sua modificação.
Nunca
a vida foi mais desvalorizada do que neste século, que conheceu as
maiores guerras jamais travadas pelos povos e um genocídio nuclear
(Hiroshima e Nagasaki), que pode se reproduzir em escala um milhão
de vezes maior, até acidentalmente. A morte é banalizada, até
mesmo nas artes, como se matar uma pessoa (ou toda uma nação, como
Adolf Hitler e Pol Pot, entre outros, tentaram, e quase conseguiram),
fosse uma ação trivial, simples, meritória, como apagar um número
de uma relação estatística. Em desespero, milhares de seres
humanos, pelo mundo afora, recorrem ao suicídio, por entenderem que
viver se tornou penoso. O que falta ao homem é definir o seu
verdadeiro papel.
O
escritor D. H. Lawrence, célebre por seu romance "O Amante de
Lady Chaterley", que teve sua obra censurada como "pornográfica"
e "atentatória à moral" e que não viu o livro ser
publicado na íntegra (o que ocorreria apenas após a sua morte),
criticou os pressupostos baseados no "ter", em detrimento
do "ser". Escreveu: "O que queremos é destruir nossas
falsas, inorgânicas relações, especialmente com o dinheiro, e
restabelecer nossa relação orgânica e viva com o cosmos, o Sol e a
Terra, com a raça humana e com a nação e a família". Imoral
não é falar sobre sexo e erotismo, mas deixar pessoas morrendo à
míngua, enquanto temos mais do que precisamos e desperdiçamos. Qual
a razão do patrimônio da humanidade – que são os recursos do
Planeta – estar entregue a pessoas tão medíocres, sem princípios
e sem ideias, que os vêm depredando de forma estúpida e
sistemática?
Boa
leitura!
O
Editor
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Li e comentei no Facebook.
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