Referendo
revogatório: condição de resgate da democracia
* Por
Emir Sader
O
governo golpista, apesar de ilegítimo, colocou em prática, de forma
avassaladora, um pacote de medidas antipopulares, antidemocráticas e
antinacionais. Trata de desmontar tudo o que de melhor foi feito
pelos governos do PT, que transformaram positivamente o Brasil neste
século. Ataca o patrimônio público, ataca os direitos dos
trabalhadores, ataca os programas sociais.
Quer
se afirmar diante do grande empresariado e da mídia pelas
(contra)reformas neoliberais. Quer justificar seu mandato por ter
passado à historia pelo desmonte do Estado de bem estar social, do
caráter nacional do Estado, dos direitos dos trabalhadores.
Segue
vendendo a preço de banana patrimônios da Petrobras e do Pre-sal.
Acredita que tanto estas vendas como aquele pacote são
irreversíveis. Mudaram a Constituição em vários aspectos,
gostariam de aprovar ainda retrocessos imensos na previdência
social.
Esse
é um sonho do neoliberalismo: inserir na Constituição os valores
pregados por essa concepção do mundo. Sempre quiseram tornar
obrigatória constitucionalmente a prioridade do ajuste fiscal. O
pacote ja aprovado mudou a Constituição, com o objetivo de tornar
perene o neoliberalismo.
Um
tema reiterado nos discursos e entrevistas do Lula tem sido o do
referendo revogatório. Ele tem dito que seria impossível governar o
Brasil e efetivamente resgatar a democracia, sem rever as iniciativas
aprovadas pelo governo golpista, a começar pelo fim do congelamento
de gastos sociais. Lula tem dito que convocaria um referendo
revogatório para rever essas medidas, submetendo ao povo a decisão
sobre todos os temas aprovados.
Lula
tem dito que o referendo revogatório, junto com uma composição
progressista do Congresso, são condições indispensáveis para
fazer o Brasil voltar a ser um pais que cresça e distribua renda. Um
governo que volte a centrar sua ação nas políticas sociais precisa
rever a decisão dos tetos dos recursos sociais, antes de tudo. E'
indispensável revisar os graves atentados aos direitos dos
trabalhadores contidas na reforma da legislação do trabalho, é
indispensável a revisão da terceirização das relações do
trabalho.
A
direita começa a integrar na agenda politica nacional o tema do
referendo revogatório. Já é uma primeira vitória politica. A
direita, pela mídia, manifesta sua preocupação com o tema,
expressando supostas interrogações do mercado em relação à
continuidade das (contra)reformas liberais. Agora acrescenta a isso a
preocupação com a revisão do que ja foi aprovado.
Buscam
depoimento de juristas, que declaram a ausência na Constituição da
figura do referendo revogatório. Que sua inclusão implicaria uma
reforma constitucional, com o correspondente apoio de 3/5 do
Congresso.
O
que remete ao outro tema: o da necessidade de um Congresso com uma
composição radicalmente diferente da atual. Não apenas para não
repetir os riscos do golpe que a Dilma sofreu, mas também para
apoiar o referendo revogatório e outras medidas, que têm a ver,
antes de tudo, com a democratização dos meios de comunicação.
As
caravanas têm esses temas como centrais, difundindo sua importância
e convocando os movimentos sociais para responsabilizarem-se por
cotas que façam com que o Congresso se torne representativo da
sociedade e não das grandes empresas, que compraram a maioria do
Congresso atual.
Dado
isso, será sempre possível encontrar a modalidade institucional que
permita entregar nas mãos do povo a decisão sobre o pacote aprovado
pelo Congresso comprado pela maior corrupção da história do país.
Será, além disso, uma nova modalidade de participação popular,
que permitirá ampliar as formas democráticas de intervenção do
povo nos temas de maior importância para o Brasil.
*
Sociólogo e cientista político
Nenhum comentário:
Postar um comentário