terça-feira, 31 de outubro de 2017

Corpo

* Por Adriano Nunes
 
Para Régis Bonvicino
 
como concebê-lo
do tarso ao cabelo
sem medo de um erro?
(não seria um erro?)
 
como revirá-lo
(fala, fome, falo)
no verso, de fato?
com um ritmo exato?
 
como consegui-lo
agora, em sigilo,
pra vê-lo infinito
sob a luz do escrito?
 
como conhecê-lo
pela pele, apelo
tátil, em mim mesmo?
(pelo toque, a esmo?)
 
como dissecá-lo
no vão intervalo
da vida? (que traço
falta? forma? braço?)
 
como discuti-lo,
sem qualquer grilo,
sem os véus do olvido?
(o que é permitido?)
 
como descrevê-lo
com esmero, zelo,
sem nenhum tropeço?
(que regra obedeço?)
 
como desvendá-lo
de vez, num estalo
mágico? (divago...
pra que tanto estrago?)
 
como descobri-lo
(não será vacilo
dos olhos?) do umbigo
à voz que persigo?
 
como devolvê-lo
pleno, inteiro ou pelo
menos verdadeiro?
(através do cheiro?)
 
como repensá-lo,
ao cantar do galo,
conservando o fígado
friamente bicado?
 
como consumi-lo
(mão, mente, mamilo)
explícito, vivo,
sem um objetivo.


* Médico e poeta alagoano.


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