Historinha
verde
* Por
Flora Figueiredo
Quando
Deus criou o mar,
estava de bom humor.
Inventou o ioiô
que nunca parasse de ir e voltar.
Chegou então o homem
para usar a novidade.
Não é que o desastrado
se enrola com tal capacidade,
que suja, torce o fio e perde a bola.
Assustado, tenta um arranjo
com o arcanjo encarregado,
que argumenta:
"Você que é tão eclético,
ja fez até a lua deflorada,
não requer a nossa ajuda para nada.
Inventa agora um mar sintético.
Para torná-lo ainda mais real,
nada mais natural do que uma ilha
com um belo farol para ofuscar.
Se o conjunto porém desagradar,
abra a tampa, corte a onda, tire a pilha."
estava de bom humor.
Inventou o ioiô
que nunca parasse de ir e voltar.
Chegou então o homem
para usar a novidade.
Não é que o desastrado
se enrola com tal capacidade,
que suja, torce o fio e perde a bola.
Assustado, tenta um arranjo
com o arcanjo encarregado,
que argumenta:
"Você que é tão eclético,
ja fez até a lua deflorada,
não requer a nossa ajuda para nada.
Inventa agora um mar sintético.
Para torná-lo ainda mais real,
nada mais natural do que uma ilha
com um belo farol para ofuscar.
Se o conjunto porém desagradar,
abra a tampa, corte a onda, tire a pilha."
In Amor a Céu Aberto, 1992
*
Poetisa,
cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a
noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão
Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo
e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua
intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça
- às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre
dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal,
seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário