Sabemos que nada sabemos
Engraçado
como somos arrogantes em relação ao nosso pretenso conhecimento.
Julgamos, apenas porque lemos um punhado de livros, obtivemos três
ou quatro diplomas universitários, observamos de passagem algum
fenômeno, que sabemos muita coisa. Há os que vão mais longe e
julgam saber de “tudo”, o que já é, convenhamos, o superlativo
do exagero (quando não da ignorância).
Nosso
conhecimento, todavia, não somente é parcial, truncado e, portanto,
incompleto, como, sobretudo, é superficial. Não conseguimos nos
aprofundar em coisa nenhuma. E muito menos saber tudo a respeito de
algum único e reles assunto. Por mais que tenhamos aprendido, em
relação a ele, sempre teremos, ainda, 99% ou mais a aprender a
respeito.
Nós,
jornalistas, por exemplo, costumamos afirmar, até em tom de
brincadeira (mas que, no fundo, no fundo é a lídima expressão da
verdade) que somos “especializados em generalidades”. Ou seja,
sabemos um pouco de tudo (por força da nossa profissão), mas não
sabemos tudo de nada. Aliás, ninguém sabe.
Tomemos,
por exemplo, um fato qualquer que precisemos noticiar. Digamos, um
assassinato. Caso o autor seja conhecido, coletamos uma série de
dados sobre ele. Em três tempos, ficamos sabendo quem ele é, onde
mora, com quem vive, qual seu círculo de amizades, quais são seus
inimigos e às vezes até o que comeu no jantar. Com tantos detalhes,
acreditamos conhecer “tudo” a seu respeito. Bobagem, claro.
Desconhecemos,
por exemplo, sua intenção ao praticar o crime, ou seja, se
pretendia, de fato, matar a vítima ou apenas dar-lhe um susto, ou um
“corretivo”. Teremos que nos fiar nas conclusões da polícia ou
na palavra do próprio assassino. E este pode estar dizendo a verdade
ou arranjando pretextos para se defender. Qual das versões é a mais
confiável? É impossível de se saber com exatidão.
Outro
detalhe, que é também subjetivo, refere-se ao motivo. Podemos nos
fiar no que foi suposto pela autoridade policial ou no exposto pelo
autor do delito. E de novo vem a dúvida: quem fala a verdade? Pode
ser que sejam os dois. Pode ser um deles. Neste caso, qual? E há,
ainda, a possibilidade de nenhum deles expor a real motivação. Como
poderemos saber? Não podemos!
Em
outros tipos de acontecimento tendem a surgir novas incógnitas, além
da intenção e do motivo do seu principal agente (ou de um deles,
quando for o caso) como a conseqüência do que aconteceu, o
significado etc. Convenhamos, sem saber desses dados (que não temos
como), não podemos afirmar que “sabemos” o que ocorreu, embora
seja essa a nossa impressão.
Ademais,
raros são nossos conhecimentos que prescindam de algum “fragmento”
que nos escapou e que outro conheça. Digamos que eu pretenda
construir um acelerador de partículas. Posso fazer sua planta,
detalhar todas suas dimensões, discriminar todos os materiais e
equipamentos necessários, mas saberei “construí-lo”? Claro que
não.
Para
isso, serão necessários diversos operários, cada qual com
conhecimentos específicos, ou seja, fragmentos do “saber”
completo. Praticamente tudo na vida é assim. Uns sabem fazer alguma
coisa, outros outra, mas ninguém sabe “todas”.
O escritor
norte-americano Philip Roth (candidato recorrente ao Prêmio Nobel de
Literatura e isso há já alguns anos), refletiu a esse propósito e
chegou à mesmíssima conclusão a que cheguei. Escreveu, no livro “A
mancha humana”: “É espantosa a quantidade de coisas que não
sabemos. E mais espantoso ainda é o que passa por saber”.
Quanta
coisa que “presumimos” que conhecemos, sem de fato conhecer! Não,
pelo menos, na sua integralidade. Essa presunção é imenso
obstáculo para nos aproximarmos de um nem que arremedo de sabedoria.
Portanto, amigo, esqueça dos livros que leu, porquanto você pode
não ter absorvido nada, ou muito pouco, dessa leitura. Não se fie
nos vários diplomas universitários que conseguiu, porque é
provável que 50% ou mais do que pensa ter aprendido já caiu no
esquecimento.
Até para
que isso lhe sirva como desafio, seja humilde e chegue à mesma
conclusão que uma infinidade de filósofos, cientistas, psicólogos
etc. chegou, tão bem expressada nas palavras de Philip Roth: “O
que nós sabemos é que, de um modo que não tem nada de lugar-comum,
ninguém sabe coisa alguma”. Ou você sabe?
Boa
leitura!
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Sei muito pouco. Quase nada sei.
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