sexta-feira, 30 de junho de 2017

Rito de Reiniciação


* Por Celeste Fontana

Subtrai-me, Senhor
essa juventude vulnerável
que insiste em ficar,
posto que contrária ao meu tempo
Subtrai-me, Senhor
essas madrugadas sem lua,
sílabas e letras infames
e me refaça em calma de luz
Apascenta-me, Senhor
como à ovelha desvairada
perdida em eclipse lunar
Esparge-me de desejos maternais
Retira-me esse sol vermelho
que insiste em brilhar
Se (im)preciso
Retira-me até o sangue
e aortas e veias
faz-me pura essência de flores
Retira-me raízes profundas,
insistência em amar
Retira-me, Senhor
essa incógnita,
porque martírio
Coabita em meu ser e
me transmuta plena
sem desejo de outro
Subtrai-me metade alucinada,
fardofosso do diferente,
sem limites, sem regras
Acalma essa alma,
origem sísmica
porque se faz descabida
profusão de anseios em meu tempo
Apascenta-me, Senhor
permita-me alma que não lateja,
não se contrai, não anseia,
porque passageira apenas
Já não mais suporto
o do que já me pertence
Revolve a minha terra
e me reconfigura
e ao que de mim simula
impiedade pior


* Poetisa.

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