Às
favas com o espírito coletivo!
* Por
Mara Narciso
Em
1973/74 aconteceu a crise do petróleo numa retaliação da OPEP –
Organização dos Países Exportadores de Petróleo a Israel,
causando recessão mundial. A ameaça à sociedade de consumo era uma
incógnita sobre como a civilização iria ficar. Leis duras foram
impostas. Assim como o ar-condicionado é econômico a 23º C, o
carro em situação de cruzeiro gastaria menos combustível a 80 km
por hora e essa norma virou lei. Eram comuns blitz com radar móvel e
parada obrigatória para averiguação. Os postos da combustível
fechavam às 18 horas e nos fins de semana. Difícil viajar de
madrugada, assim como tolerar a restrição da liberdade. Os
motoristas levavam combustível em galões dentro do carro, muitos
deles se incendiaram e foram largados à beira do caminho. Foi quando
surgiu o famoso sinal de farol. Quando havia fiscalização, os
motoristas iam avisando aos demais através do flash de luz. Tais
medidas eram decisões pessoais. Ninguém pensava em economizar para
o bem-comum. Cada um queria apenas chegar. A crise global passou e o
mundo civilizado persistiu, embora as guerras pelo petróleo
continuassem, inclusive pelo “pré-sal”, mesmo com energias
alternativas como solar, nuclear e álcool.
É
normal ter combustível para usar a qualquer hora, assim como ter
água límpida e abundante nas torneiras. Não tê-la é fatal.
Deveria haver um limite obrigatório de consumo por pessoa/dia (no
mínimo 100 litros, segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde.
No Brasil a média é de 160 litros). A ordem é não gastar, porque
não tem água para distribuição em Montes Claros. Culpar a COPASA
– Companhia de Saneamento de Minas Gerais -, uma empresa de capital
misto, que cuida da água de boa parte de Minas Gerais, de que faltou
investimento ao longo dos mais de 40 anos de exploração econômica
vantajosa (65 milhões de lucro por ano - 2010), não vai fazer
chover e nem chegar água encanada. Poderá funcionar para um futuro
remoto, caso haja futuro. Buscar água no espoliado Rio São
Francisco? Como?
O
reservatório de Juramento, que abastece 65% da água consumida na
cidade, está com 29% (maio de 2017) da sua capacidade. Há quase
sete anos não chove normal, e a cada dia a situação fica mais
crítica em todo o norte de Minas. Há anos o Exército distribui
água em carros-pipa em diversas cidades. Quem educou a população,
preservou os mananciais, fez barragens, e planejou o consumo está em
melhor situação. Na mesma época do ano passado, o reservatório
Sistema Verde Grande, que recebe água do Rio Juramento e Saracura
estava com 59% da sua capacidade, agora tem a metade. Nosso período
chuvoso é de outubro a março. Desde outubro de 2015, estamos com
restrição hídrica parcial, e em dezembro de 2016 começou o
racionamento geral dia sim dia não numa cidade setorizada, com
previsão de dia sim e dois não para breve.
Há
quem não se comporte civilizadamente, e mantenha um consumo
“normal”. No sábado, dia de faxina, observando os vizinhos,
pode-se ver, ainda que estejamos quase no inverno, troca de água da
piscina, lavação de carro com mangueira, ou gasto abusivo que a
todos insulta, pois têm grandes reservas em casa, além de cisternas
e poços artesianos. A água do lençol freático é de todos, e não
de quem perfurou, e isso não deveria ser ignorado.
No
começo da falta d’água, aconteceram brigas, filmagens e
discussões, mas rarearam, à medida que os cidadãos se acostumaram
com a ameaça. Gasto a ser considerado é o modismo de se beber
quatro litros de água por dia e ir ao banheiro de hora em hora,
aumentando o consumo da descarga. É urgente economizar água,
colocar bico pão duro na torneira, abrir pouco e fechar rapidamente.
Mudar o hábito para não mudar de cidade, pois sem água, 400 mil
habitantes terão de migrar. O espírito coletivo precisa se sobrepor
ao egoísmo, pois, se continuar como está, em breve não haverá
água nem para o mosquito da dengue proliferar. Deverá sumir junto
com a ignóbil raça humana.
*
Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia
Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de
Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”
É aquela história: se a farinha é pouca, o meu pirão primeiro. Instinto perverso e egoísta da raça humana. Especialmente do humanoidis brasilis! Abraços, Mara.
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