sábado, 17 de janeiro de 2015

Primeira chuva


* Por Bernardo Elis


Quentura de noite pejada de nuvens baixas e negras.
Bambos bamboleios de trovão soturno
batendo o tímpano bambo da zabumba do horizonte.
Trovão apagado,
saudoso,
distante.
Depois a chuva em grossos pingos
sobre os telhados,
na poeira ressequida das estradas,
na terra requeimada das queimadas,
desprendendo um cheiro forte de gestação.
(Mamãe molhava algodão em cachaça canforada
e nos dava para cheirar: - cuidado com defluxo!)
Amanhã tudo vai começar de novo:
as folhas voltarão aos galhos secos,
as águas resmungarão nas grotas mortas,
os pássaros do céu hão de cantar no cio...
(E aquela que partiu por que não volta?)
Lá fora uma goteira numa lata pinga,
pingo a pingo,
pengue,
pengue,
numa toada monótona de preta que ninasse.
Pengue,
pengue,
pingo a pingo.
(E aquela que partiu,
Por que não volta?)


* Escritor, membro da Academia Brasileira de Letras

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