segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O crédulo


* Por Daniel Santos


Estás agora entre teus humanos pares, toda a raia miúda que te circundou a vida inteira. E a bem da verdade nada diferes deles, nada mesmo. Por isso, talvez, estiveram sempre de acordo, coniventes ... E a conivência, por excluir contradições, assemelha-se à solidariedade, não é?

Confundiste os dois conceitos. Quiseste um dia acreditar que uns estendem a mão a outros, não é? Na certa, visavas ao conforto. E agora pagas o preço dessa ilusãozinha à toa que não resiste à mínima prova – um preço que te endivida até a penúria e que te arrasta humilhado ao tribunal.

Vês? Não há como pagar a dívida, se já rapas o fundo do cofre e até tua filha, de todas a mais querida, rebola-se desavergonhada no colo dos credores para negociar a amortização! Estás sozinho e perplexo em pleno salão dos julgamentos. Pretendes a absolvição, eu sei. Mas quem te absolverá?

* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.

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