quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Estamos presos às redes sociais e os hackers estão soltos

* Por Mara Narciso

A cada dia mais preguiçosos nem ao banco vamos mais. Não é que tenhamos saudades das mais de duas horas perdidas em cada visita, as exatas duas horas do almoço, mas andar e ver gente ficaram para trás. Com as facilidades dos terminais eletrônicos, tão bombardeados por assaltantes, e onde pegamos nossos trocados, ou nem isso, pois pagamos no cartão de débito (exceto eu), vemos nestes terminais o que nos sobra ou nos falta a cada mês. Fazemos pagamentos e transferências em casa, já há algum tempo. De posse de um bom antivírus pago (R$62,00 por mês, é o preço do meu - McAfee), vamos atualizando o programa de segurança de tempos em tempos, a pedido do banco.

De olhos arregalados, seguimos o passo a passo; preocupados com a possibilidade de páginas maliciosas, inseridas à nossa revelia, impregnadas de cavalos de tróia. Mas a imagem é idêntica a que o banco habitualmente mostra, e não algo mambembe, amador. As cores são as mesmas. Então vamos andando seguros durante o download. Nos e-mails a atenção é a mesma. Nada de dar atenção a prêmios, cobranças ou retornos não solicitados. São manjadas as promessas de carros, dinheiro, ou imagens chocantes. Ninguém dá confiança para isso, sejam em redes sociais ou em outro lugar da internet.

No celular, mais vulnerável, evitamos fazer transações bancárias. E nas redes sociais, fugimos do desconhecido. As máquinas dos terminais teimam em exigir a repetição da operação um sem número de vezes, e as fazemos sem pedir ajuda. Travam, pedem para repetir, e de vez em quando agarram o cartão, ou dão a operação inacabada por terminada. Sorte nossa quando pede nome de pai, ou mãe, ou da cidade natal ou ano de nascimento, além do CPF. É a nossa segurança que está em jogo. Não deixamos a senha com ninguém, e evitamos usar computadores de firma ou públicos para entrar no banco. Ver o que está acontecendo, apenas com todas as páginas fechadas.

O banco disponibiliza um terminal em nossa casa, porque acredita que o sistema de segurança deles é bom. Em caso contrário não deixaria esta porta aberta aos ladrões. De vez em quando, caso demoremos mais tempo online, ou erremos mais de três vezes a nossa senha, a qual deve ser trocada de tempos em tempos e não ter números manjados de dia de aniversário ou número do telefone, é preciso visitar o banco real e trocar tudo. Cada conta tem uma série de senhas de números e de letras. É ótimo que seja assim. Segurança e confiança no nosso banco são tudo.

Após um período sem acessar a nossa conta, ao entrar vemos estupefatos um débito de quase mil reais em gritante vermelho, que não foi feito por nós. Trata-se de um pagamento de um título de outro banco que nós não usamos, e depois ficamos sabendo ser de outra cidade. Há um depósito de pagamento em cheque bloqueado por dois dias úteis. Nós trabalhamos, receberemos o dinheiro devido, parcos recursos, para nossas despesas. Ele chegou, mas está indisponível, ainda.

O site está estranho, pede para nós teclarmos a senha de seis dígitos, para averiguar a segurança, e afirma que vai enviar ao nosso celular uma nova senha extra, para permitir acesso total à nossa conta. Alerta total! Digitamos o que pedem, esperamos, mas a senha não vem. Desistimos. Procuramos dormir. Afinal ninguém morreu ainda.

No dia seguinte continuamos sem acesso à nossa conta. Telefonamos ao banco, contamos do ocorrido ao gerente e falamos das nossas suspeitas de que a conta tenha sido invadida, e vemos que não há retorno. Enviamos a secretária e vamos almoçar. Entramos na conta em casa, e o terminal permite a entrada. Não veio a tal nova senha ao celular, mas mesmo assim deixa entrar. Surpresa! Houve novo saque, de mil reais, o limite permitido pelo terminal externo. E poderia ter sido evitado, caso o alerta tivesse sido atendido. O hacker estava à espreita aguardando a liberação do nosso mísero capital para agir.

Já no banco, argumentamos com o gerente, e este faz a sua inquisição. Duvida de nós e o pior, da nossa inteligência. Respondemos a seguinte pergunta: “você deu a sua senha por telefone a alguém que afirmou ser do banco?” Principalmente para quem é correntista há quase 30 anos, e nunca ter tido qualquer problema bancário, é complicado estar no papel de vítima sob suspeita. Mas parece que tudo correrá bem. O banco vai devolver o dinheiro à nossa conta, só não sabemos quando, e entrará com uma ação para desvendar o paradeiro do dinheiro. O hacker não é nenhum sócio do Wikileaks, mas entende um pouquinho, embora tenha deixado rastro, como por exemplo, o seu nome e sobrenome. Sem contar o tal título pago (roubado do nosso dinheiro), pois nele deverá conter endereço e CPF. Uma carta de contestação do saque é exigida, para formalização e depois de dois dias por conta do stress, nós nos tornamos uma pessoa à espera da resolução do caso para ter de volta o nosso mísero dinheiro.

Não pense que os seus proventos estão seguros onde estão. Cofre em casa? Não entendo para quê. Deve ser para proteger seus valores dos familiares, pois os ladrões apertam seu pescoço para tê-lo. O perigo de roubo não está apenas nas ruas escuras das madrugadas, nas quais os ladrões roubam tudo o que nós temos inclusive a nossa vida, não sem antes derrubarem a nossa dignidade. Lá há a crueldade, mas, dentro dos caminhos da internet, está o perigo maior, escondido feito serpente enroscada. Inocentes, teremos nossos pescoços marcados por duas presas venenosas. Calemo-nos e nada de reclamação.

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   


2 comentários:

  1. Já há tempos nossa vida é assim, Mara: uma tocaia em cada byte. Facilidades muitas e segurança pouca. Bem a propósito a sua análise. Abraços!

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  2. Felizmente já revi meus 2 mil reais. O nome do rapaz apareceu na minha conta. Acho que o banco não terá dificuldade em reaver o dinheiro. Agradeço a passagem solidária, Marcelo.

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