quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Características da ficção científica

A ficção científica é um gênero literário – ou subgênero, como queiram, podendo apresentar-se nas formas de conto, novela ou romance – ainda pouco compreendido, em torno do qual persistem inúmeros equívocos. Até não faz muito, sequer era considerada Literatura, o que, para mim, era o suprassumo da tolice,  cercada que estava (e de certa maneira ainda está), sobretudo, de preconceito. Ora, ora, ora. Quem está habilitado a fazer esse tipo de definição? Quem discrimina o gênero, entre outras razões, desconhece suas características. Muitos romances, contos e novelas são, tecnicamente, ficção científica, embora críticos e leitores não se dêem conta disso. Querem exemplos? Lá vão.

O romance gótico de Mary Wollstonecraft Shelley, “Frankenstein” enquadra-se a caráter no gênero, embora nunca tenha visto alguém classificá-lo como tal. Está no mesmo caso o clássico de Robert Louis Stevenson, “O médico e o monstro”. Recuemos no tempo, ao século XVIII. As viagens espaciais, imaginadas por Voltaire, no “Micromegas”, história esta datada de 1752, é, sim, ficção científica, e da boa, embora a maioria dos estudiosos de Literatura estabeleça como marco de sua criação o século XIX, com a obra de Júlio Verne. Óbvio que, em nome da exatidão, isso tem que ser revisto. E o que dizer de “As viagens de Gulliver”, de Jonathan Swift, publicado em 1726?

Afinal de contas, o que caracteriza determinada história como sendo ficção científica, não importa quando tenha sido escrita? Em nome da exatidão e da clareza, recorro, de novo, à enciclopédia eletrônica Wikipédia, que sempre me utilizo quando quero ser didático. A referida fonte explicita: “Este tipo de literatura pode consistir numa cuidadosa e bem informada extrapolação sobre fatos e princípios científicos. Ou abranger áreas profundamente rebuscadas que os contrariem definitivamente. Em qualquer dos casos, o ser plausível baseado na ciência é requisito indispensável”. Por esse critério, o “Frankenstein”, de Mary Shelley, é ficção científica. Embora não seja provável a criação de um ser vivo, “construído” com pedaços de cadáver, é minimamente possível. Se alguém, vai fazer ou não isso, pouco importa. Já “Drácula”, de Bram Stocker, não é ficção científica. É puríssima fantasia e nada mais.

Em complemento à definição do gênero, volto a recorrer à Wikipédia: “Ficção científica é uma forma de ficção (...) que lida principalmente com o impacto da ciência, tanto verdadeira quanto imaginada, sobre a sociedade ou os indivíduos. O termo é usado, de forma mais geral, para definir qualquer fantasia literária que inclua o fator ciência como componente essencial. E, num sentido ainda mais geral, para referenciar qualquer tipo de fantasia literária. Em inglês o termo ficção científica é às vezes abreviado para sci-fi ou SF. Em português, é abreviado para FC”.

Ficou claro? Espero que sim. Admito que não fui muito criterioso, ou organizado, ao iniciar esta série sobre alguns dos principais escritores do gênero. Antes de comentar o que escreveram, deveria definir porque seus romances e contos são “rotulados” como ficção científica. Claro que tudo isso é muito teórico e só tem importância para os que estudam os fundamentos da Literatura. Para o leitor comum, o que conta é se determinada história é bem escrita ou não, sem levar em consideração qualquer definição teórica dela. Não vejo, todavia, mal algum em tratar do assunto. Muito pelo contrário. Mas daí a dizerem que ficção científica não é Literatura, para mim é um disparate sem tamanho. O gênero começou a se popularizar – sob influência, principalmente, dos quadrinhos, do rádio, da televisão e do cinema – a partir do final da Segunda Guerra Mundial. E a tendência é de uma popularização ainda mais ampla com o advento da internet.

Enfatizo e reitero que ficção científica não se restringe, apenas, a viagens espaciais. Nem só a seres alienígenas, a guerras intergalácticas e outros quetais, que raiam ao delírio, tão fantasiosos nos soam ou nos pareçam. Seu campo é muito mais amplo e verossímil (embora a verossimilhança, em muitos casos, não seja tão evidente) do que apenas isso. Esse tipo de histórias (o das aventuras espaciais e dos ETs), confesso, não é propriamente do meu agrado, embora não generalize.

Aliás, Wikipédia lembra que há muitos tipos de ficção científica. E identifica os dois principais: “(...) a soft, como por exemplo as séries televisivas ‘Star Trek’ (‘Jornada nas Estrelas’), ‘Battlestar Galactica’ e ‘Doctor Who’, e também a ficção científica hard, como por exemplo os filmes ‘2001, Uma Odisséia no Espaço’, ‘Blade Runner’ e ‘Solaris’. Há também alguns filmes que se utilizam de temas recorrentes na ficção científica embora tenham mais características do gênero fantasia, como por exemplo a série de filmes ‘Star Wars’”.

É preciso ter em mente que a Ciência comporta inúmeras disciplinas que não somente a Química, a Física, a Biologia, a Astronomia etc. Incluem-se, também, nessa classificação, por exemplo, a Sociologia, a Política, a Economia, a Etologia (estudo do comportamento), a Antropologia e vai por aí afora. É isso que precisamos ter em mente ao classificarmos determinada história como sendo ficção científica. Voltarei, certamente, ao tema.

Boa leitura.

O Editor

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk.



Um comentário:

  1. Interessante que usando apenas o manjado gosto ou não gosto, a gente vê que, entre os filmes consagrados, há muitos de FC que nem nos damos conta. Para mim, tudo que é futurologia e que ainda não aconteceu, é ficção científica. Não gosto quando é muito fantasiosa ou delirante, como você falou. A "passadologia" também é ficção, como no caso do Parque dos Dinossauros, embora a volta deles seja coisa ainda por acontecer.

    ResponderExcluir