Sorveteria Drummond
* Por
Marcelo Sguassábia
Tome aqui uma pazinha, experimenta o de nozes com coco queimado. Ninguém
em Itabira faz deste sabor, olha
como é cremoso. Um pingo de cobertura de chocolate caiu sobre o original de
"Tardes de Maio", outro dia. Sinal dos deuses de que devo
descartá-lo, é a mancha da reprovação de alguém que lá de cima é melhor em
crítica literária do que eu em poesia. Vai, Carlos, ser sorveteiro na vida.
Darei ao "Tardes" o mesmo e infeliz destino da "Máquina do
Mundo" - o cesto de casquinhas espatifadas.
Sigo vagaroso, de mãos pensas, apertando o passo e olhando tenso para o relógio. Daqui a pouco acaba a missa, e Deus deu a este magricela uma sorveteria bem no caminho de volta dos fiéis para suas casas. Escalda, sol, nos cangotes dos meninos que imploram picolés a todo custo, me arruma aí um bom faturamento para compensar a baixa inspiração. Imagina, dona, isso acontece. Já vou mandar passar um pano de chão rapidinho, fique tranquila. Cachorro não sabe quando e onde pode mijar...
Sigo vagaroso, de mãos pensas, apertando o passo e olhando tenso para o relógio. Daqui a pouco acaba a missa, e Deus deu a este magricela uma sorveteria bem no caminho de volta dos fiéis para suas casas. Escalda, sol, nos cangotes dos meninos que imploram picolés a todo custo, me arruma aí um bom faturamento para compensar a baixa inspiração. Imagina, dona, isso acontece. Já vou mandar passar um pano de chão rapidinho, fique tranquila. Cachorro não sabe quando e onde pode mijar...
Para de uma vez com esse negócio de escrever, Carlos, bota todas as
palavras pra gelar. Que se resuma a escrita, no seu caso, a anunciar os sabores
na lousinha, a banana split em oferta, a calda de caramelo grátis pra quem
escolher pistache de segunda a quarta.
João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim
que amava Lili que amava todos os nossos sundaes repletos de cerejas ao
maraschino e farofa de nozes. Façam como a Lili e venham se deliciar, com a
família e com os amigos, no mais refrescante oásis da cidade.
E agora, José? E agora nada, é abanar as moscas e congelar os dias nesta
pasmaceira que mal dá pro gasto. O aluguel vai vencer, a matéria-prima vai
subir, a conta de energia está pela hora da morte. Itabira é mais que um
retrato na parede, é o ganha-pão deste um que não teve peito de trocar o ferro
das montanhas pelas espumas do mar. Mas saio no lucro, com meus sorvetinhos
melados e nada necessários. Pelo menos não viro estátua e nem me roubam os
óculos.
* Marcelo Sguassábia é
redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com
(Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com
(portfólio).
Gostosura de homenagem a Drummond. Uma graça só. Com todos os sabores e adereços do sorvete, inclusive a cereja. Não a pedra. Parabéns, Marcelo!
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