quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Ciúme, ciúme meu, haverá mulher mais ciumenta do que eu?

* Por Mara Narciso

O mercado masculino está escasso para a ávida demanda feminina. Caso algum homem, que uma mulher gostaria que estivesse com ela, mas não está, embora, pelos cálculos dela devesse aparecer e não apareceu, qual a conclusão que ela deve tirar? Aquele homem prefere estar fazendo outra coisa, estar com outra pessoa que não é a própria. Ceninha de ciúme leva o homem de volta? Espernear dá resultado? Todos sabem a resposta.

Numa situação assemelhada, lâmpada vermelha acesa na mente, uma mulher começa a caça ao celular. Lá estão duas chamadas novas e não atendidas, disfarçadas sob o manto insuspeito de um nome masculino: Mário. Mas o ciúme já lhe corrói as entranhas e a insegurança está em seu alerta máximo. O que fazer? Já está pronta para qualquer negócio, desde que descubra o malfeito.

Antes disso, num passeio pelo shopping, após o almoço de domingo, circulam mãe e filho. De súbito o rapaz vê numa loja o climatizador que o seu pai estivera procurando e não tinha achado da marca desejada. Não há estoque, então o filho resolve ligar logo para não perder a oportunidade. Seus pais estão separados há sete anos, e não se falam. Ele pede a mãe o celular emprestado, já que nunca leva o seu para lugar nenhum. Liga duas vezes em seguida, mas dá caixa postal de imediato, mostrando que a pessoa em questão não pode ou não quer atender.

Duas horas depois o celular da sua mãe toca, por volta das 16 h do dia 29 de setembro, domingo. Sem poder ver quem era, por estar sem óculos, ela atende.
- Alô!
- Quem é? – diz nervosa uma voz feminina.
- Maria.
- Você deveria parar de telefonar para o marido dos outros. Sai fora! Sai fora! – disse a voz descontrolada.
- Quem é? – diz a ex-esposa desafortunada, pela súbita interrupção do seu domingo.
- É a esposa de José. O que você quer com meu marido? – berrou irada.
Sabedora de quem se tratava, Maria falou calma, quase indiferente:
- Foi João quem ligou.
- João tem celular. Por que motivo ele iria usar seu telefone para ligar pro pai? – continuou a gritar.

Entregando seu telefone para o filho, Maria diz para ele:
- A mulher do seu pai está brigando comigo, por que você ligou pra ele do meu celular.

Passando a bola para o filho, a ex-esposa simplesmente estava se negando a dar explicações, pois, segundo seu filho João, “quem se explica já está errado”. João falou assim:
-Fui eu que liguei, Rita.

Mas nem pôde falar mais nada, porque a mulher o xingou todo, passando-lhe o maior sermão, proibindo-o definitivamente de telefonar ao pai pelo telefone da mãe. Ele, bom rapaz que é, não retrucou. Deixou pra lá.

Do episódio fica-se sabendo de muitas coisas: este filho é rapaz educado que respeita a mulher do pai dele; esposas existem sem ter havido casamento civil, já que José nunca se divorciou; o mercado de maridos está muito aquecido; as mulheres estão inseguras quanto ao seu poder de sedução e manutenção dos seus amores. Não sem razão.

Quando Maria rompeu seu casamento há sete anos, o rompeu para sempre. Quem chegou com mais de 30 anos de atraso pode hastear bandeira e se agarrar a sua nova propriedade com a força de mil terremotos. E que faça bom proveito! Existem pessoas que não se envergonham de dar vexame, nem em fazer papel ridículo. Tolas são as que lhes dão atenção. Mas nem todas descem do salto de princesa e se afundam no esgoto da estupidez.

No dia seguinte, José, obediente, quando foi à porta da casa de Maria buscar o filho dos dois para o trabalho, estacionou o carro do outro lado da rua, não exatamente na porta, como fazia antes. Sua atual “esposa” deixou ordem expressa para que não beire a casa da ex, senão irá se arrepender amargamente. Ex-esposas são espectros sobre novos relacionamentos, mesmo quando já viraram a página.

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   

2 comentários:

  1. Bom assunto, Mara, que você trouxe, tão bem, à baila. É o velho e surrado conflito de paixões. Há mentalidade arraigada nas pessoas que amar alguém significa obter, automaticamente, “certificado de propriedade” desse ser amado, ou pretensamente amado, como se fosse algum objeto, mesmo que precioso. Ocorre que gente não tem dono. É isso que muitos teimam em não entender e por isso se dão tão mal. Ciúmes, como o descrito, nunca resultam em finais felizes Como sempre, Mara, você traz para nossa reflexão assunto super oportuno, e muito bem desenvolvido pelo seu talento narrativo. A vida apresenta situações tão absurdas, tão surreais (como esta) que ficcionista algum, por mais criativo que seja, consegue inventar algo sequer remotamente parecido. Em suma, gostei de mais esta sua coluna semanal, aliás, como gosto de todas elas.

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  2. Mais uma vez, Pedro, obrigada. O ciúme deve ser o sentimento mais estúpido que possa existir. Imagine um embate real, uma disputa pra valer entre duas mulheres, sendo uma delas, esta da história. Como você disse, como boa não vai acontecer.

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