Crise,
mudança, liderança e demagogia
As
palavras crise e mudança, certamente, estão entre as mais utilizadas por todos
os povos no decorrer da História, pelo menos da escrita. Problemas econômicos,
de diversas naturezas e intensidades, foram causas de grandes conflitos, de
imensas injustiças e de uma fartura infindável de retórica e de demagogia
milênios afora.
Basta
que uma determinada sociedade nacional revele incompetência para produzir e
distribuir os bens que sua população necessita, ou os que possam ser trocados
por elas com outros povos, para que surjam os charlatães que posam de
salvadores da pátria. Aparecem, por sinal, sempre com a mesma conversa, não
importa em que lugar ou em qual idioma.
Atacam,
via de regra, a febre, nunca a infecção. Atuam sobre as conseqüências, jamais
sobre as causas dos desequilíbrios econômicos. Pura irracionalidade!
A
retórica dos poderosos, quando os governantes (boa parte deles) têm que dar
satisfações aos governados, é invariável. Apela-se aos cidadãos para que “apertem
os cintos”, mesmo que estes não tenham mais nenhum furo para apertar.
Esses
magos das finanças juram, solenemente, que os mais humildes não serão afetados.
A prática (dos sucessivos planos de reforma econômica conhecidos, dêem certo ou
não) mostra, exatamente, o contrário. Os que pouco, ou nada, têm,
invariavelmente são os que pagam a conta.
Decisões
adotadas friamente, em confortáveis e luxuosos gabinetes, alteram a vida (na
esmagadora maioria das vezes para pior) de milhões de seres humanos, que até
então só conheceu sacrifícios e privações de toda a sorte, sem que essas
pessoas pudessem e nem possam fazer qualquer coisa para evitar. São tratadas
como rebanho, como massa, quando não como meros dados estatísticos, passivos de
manipulação.
As
sociedades democráticas contemporâneas têm discutido, cada vez mais, sobre se
uma democracia autêntica comporta ou não lideranças fortes. Há os que temem
líderes carismáticos, por causa de uma certa tendência que eles revelam para o
culto à personalidade, que em geral descamba para a ditadura.
Mas
o problema precisa ser, igualmente, dividido com os liderados. Estes têm que
ter tirocínio para não se deixarem conduzir por qualquer megalomaníaco que fale
bem, exponha com razoável clareza e lógica planos evidentemente mirabolantes
(e, portanto, inexeqüíveis) e que, sobretudo, assumam postura de
"salvadores da pátria".
O
historiador norte-americano Arthur M. Schlesinger Jr. constatou: "A
liderança pode modificar a história para melhor ou para pior. São os líderes os
responsáveis pelos crimes mais horríveis e as loucuras mais extravagantes que
desgraçaram a raça humana. Mas a eles também se credita terem induzido a humanidade
a lutar pela liberdade individual, a justiça social e a tolerância religiosa e
racial". Um corpo é absolutamente incapaz de sobreviver sem uma cabeça. O
mesmo vale para uma sociedade acéfala. Ela acaba por se desagregar.
Mikhail
Gorbachev e Saddam Hussein foram, ambos, líderes. Mas é possível igualar os dois,
em suas respectivas atuações? Vaclav Havel e Muammar Khadafy também foram,
assim como Adolf Hitler e Mohandas Karamanchand Gandhi. Mas as diferenças
saltam à vista, sem que seja preciso lembrar a história para se fazer a
diferenciação.
Nas
democracias, as lideranças não se impõem através de golpes, conchavos,
massacres, torturas e prisões em
massa. Os líderes precisam mostrar clarividência e competir
com outros que tenham a mesma aptidão. Submetem-se à escolha popular, correndo
o risco de serem preteridos, através de indispensáveis mecanismos de voto, que
entre nós boa parte dos cidadãos ainda não entendeu a relevância.
O
pensador norte-americano Ralph Waldo Emerson explicou a razão de precisarmos de
pessoas íntegras, de pulso forte e coração compassivo, que nos conduzam.
Escreveu: "Nós nos nutrimos de gênio. Os grandes homens existem para que
existam homens maiores".
Os
liderados precisam desenvolver uma aptidão especial para identificar
corretamente seu líder. Numa democracia, os erros podem ser corrigidos pelo
exercício periódico do voto. Numa tirania, não. Alexis de Tocqueville alertou
para esses riscos ao afirmar: "Uma democracia só pode obter a verdade como
resultado da experiência; e muitas nações podem perecer enquanto aguardam as
conseqüências do seu erro".
As
invariáveis “recessões purgativas”, por exemplo, para deter processos
inflacionários agudos e descontrolados, deflagrados por ações incompetentes de
governos ineficazes (afinal, são eles que emitem moedas), determinam a perda de
emprego – do seu ganha pão – de inúmeros pais de família, que já auferiam
rendas irrisórias.
Seria
interessante e, sobretudo, esclarecedor que se fizesse um levantamento honesto
e criterioso para saber quantos países elaboram, ou estudam implantar, planos
de ajuste econômico. Gregos, espanhóis, portugueses, irlandeses, italianos e
cipriotas estão às voltas, atualmente, com medidas restritivas que vêm gerando
desemprego em massa, descontentamento popular, protestos e violência. As
medidas darão certo? Há segurança a propósito? Claro que não! E refiro-me,
aqui, a democracias. Imaginem tudo isso em uma ditadura onde a mais inocente
manifestação de descontentamento pode resultar na prisão, se não em coisa muito
pior, para o infeliz que ousar agir assim.
Algo,
portanto, está errado, muito errado, na própria forma do homem dito civilizado
viver. O pior é que, na maioria dos países em dificuldades (entre 70% a 80% da
comunidade mundial), os mais competentes, esforçados e capazes, em vez de serem
premiados por suas virtudes, são, na verdade, penalizados.
Não
é raro, nessas sociedades, se ver médicos, engenheiros, advogados e outros
profissionais liberais de primeira classe exercendo funções muito aquém daquelas
para as quais se prepararam e foram treinados a executar. E chamam isso de
“democracia”. Aliás, essa palavra encobre uma série de tiranias e arremedos de
liberdade mundo afora. São raros os ditadores (se é que existem) que admitem
que o regime que encabeçam se trate de ditadura. Juram, por todas as juras, que
se trate de “democracia”. Conclui-se,
daí, que embora mudem o cenário e os personagens, o enredo básico da história
sempre tende a ter uma absurda e monótona repetição. É mais do mesmo e com
idênticos resultados.
Boa
leitura.
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Um país não estar em dificuldades financeiras significa o quê exatamente? Que quem tem de produzir riqueza freneticamente está cumprindo seu papel, e a natureza vem absurdamente sendo perdida e perdendo-se? Já não sei o que é uma nação dar certo. Agora mesmo, uma leva da haitianos sem qualificação (suponho) está chegando ao Brasil. Nem de longe pensamos em dar a eles os melhores empregos. Como fazem com brasileiros na Europa e em USA, imaginamos que eles farão o serviço sujo. Há quem se arrepie de medo e tenha vontade de fechar as comportas da fronteira. Mesmo pobres e sem qualificação especial, será que se fossem brancos, loiros e de olhos azuis o sentimento seria o mesmo?
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