* Por Eduardo Oliveira Freire
FEITA DE SONHO
Via-a em sua janela, bela e delicada. Foi amor à primeira vista, mas, sentia-me inferior. Estava numa torre tão alta, talvez, à espera de um príncipe encantado. Um dia, ela se jogou da janela e caiu em cima de um mendigo. Os dois morreram na hora. Como sinto inveja do pedinte!
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VÉSPERA DO ANO NOVO
Algo em mim quer partir com ano velho. Não quero deixá-lo ir, mas ele precisa. Está bem idoso. Um ovo surge em seu lugar e está rachando, o mistério do futuro me ronda. Sempre quero fugir, mas o tempo é implacável. Quer saber de uma coisa, comerei uma rabanada! Alguém servido? Antes que me esqueça, feliz ano novo.
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SENHOR AUSTERO
Dizia que só consumia comida de verdade: arroz, feijão e carne. Considerava frutas e doces, uma frescura. Sua aparência era austera. Um dia, soube que seu filho e nora morreram. No enterro, só foi falar com os netos. Convidou-os para passear. Os netos ficaram receosos, achavam o avô chato. Mas gostaram. O avô conhecia lugares muito interessantes. De repente, viram uma confeitaria e pediram, com olhares famintos, para entrar. O senhor tentou resistir, porém cedeu.
As crianças comeram biscoitos, tortas e sorvetes. Ele assistiu a tudo sobriamente. A neta mais nova lhe ofereceu um pedaço de torta de morango. Disse que não queria, ela insistiu. Provou e algo tomou conta dele.
Começou a comer as guloseimas com os netos, que não mais o viam como um avô severo, mas como um amigo.
* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, com Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor


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