sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O maior desafio

O escritor inglês, Aldous Huxley, escreveu, em 1931, instigante sátira sobre hipotético futuro do Planeta, publicada em 1932 sob o título “Brave New World”, traduzido, na edição em português, como “Admirável Mundo Novo”, que, provavelmente, nem ele acreditava que algum dia seria sequer remotamente parecido com o que descreveu. Todavia, hoje a situação descrita não somente é possível, como, até, é provável. Há quem afirme, não sei se com base em fatos ou apenas em suposição (em chute), que esse livro inspirou Eric Arthur Blair – que assinava seus textos com o pseudônimo de George Orwell – a escrever seu igualmente polêmico e ainda mais inquietador romance “1984”, escrito em 1948 (cujo título é mera inversão do ano que escreveu) e publicado em 1949.

Ambos tratam, cada qual à sua maneira, de sociedades fechadas, ditatoriais, em que as pessoas são vigiadas, controladas e manipuladas e não têm direito, sequer, de ter, quanto mais de expressar idéias que não sejam as dos respectivos dirigentes dos sistemas. No “inferno” que Huxley concebeu (que não fica nada a dever ao de Dante Aligheri, em “A divina comédia”), os indivíduos são pré-condicionados, em termos biológicos, e condicionados, no aspecto psicológico, a viverem em plena harmonia. Fosse isso fruto da própria vontade, seria o Paraíso na Terra. Mas não era. As pessoas, desse “mundo admirável”, eram como marionetes vivas. Sempre que se sentiam inseguras, por qualquer motivo, ou que tinham alguma dúvida a propósito de como eram governadas, eram dopadas com uma droga chamada “soma” que, aparentemente, não tinha efeitos colaterais.

Essa sociedade, criada por Aldous Huxley, não tinha ética religiosa e nem os valores morais que nos norteiam. O conceito de família também não existia. E a educação sexual era ministrada às crianças desde que estas tinham um mínimo de entendimento. Aparentemente, os habitantes deste mundo eram equilibrados e felizes. Não eram, evidentemente. E havia rígido controle populacional, para impedir eventual superpopulação.

Na época em que o romance foi escrito, a realidade política, econômica e social, em âmbito internacional, era muito diferente da atual. A Europa tentava se recuperar dos horrores da Primeira Guerra Mundial, até então o mais sangrento e perverso conflito armado da História. Essa barbárie foi responsável pela morte de 19 milhões de pessoas (9 milhões de militares e 10 milhões de civis), além de causar o colapso de quatro impérios e de promover mudanças radicais no mapa geopolítico da Europa e do Oriente Médio. Isso sem contar os imensos prejuízos materiais que causou. Foi, até então, a maior carnificina já ocorrida no mundo. Dizia-se que, após essa guerra, os povos jamais voltariam a guerrear. Mas voltaram. E apenas em escassas duas décadas.

Se a Primeira Guerra Mundial foi considerada surreal e dantesca carnificina, imaginem a Segunda, que teve seis vezes mais mortes que a anterior (cerca de 60 milhões)! Seus horrores foram incrivelmente maiores, com o Holocausto de judeus e com o desenvolvimento, construção e utilização da mais arrasadora das armas já inventada pelo homem, a bomba atômica. Não fossem esses dois conflitos, que eliminaram, somados, 80 milhões de pessoas, o leitor já imaginou como o problema da superpopulação seria muito mais grave hoje? Não que tenha a gravidade atenuada, longe disso, mas certamente seria muitíssimo maior.

Em 1958, Aldous Huxley escreveu a continuação do romance que havia escrito em 1931, sob o título de “Volta ao admirável mundo novo”. A ênfase, agora, foi centrada exatamente na explosão populacional, que tanto o preocupou na ocasião e, aparentemente, aos governos de alguns países. A China, por exemplo, a sociedade nacional mais populosa do Planeta, tentou impor aos casais a geração de apenas dois filhos para cada família. Isso resultou em drástico desequilíbrio populacional, com a dramática redução no número de nascimento de mulheres. As meninas passaram a ser sacrificadas, antes mesmo do nascimento, quando o feto tinha o sexo apurado nos exames pré-natais. Os casais queriam porque queriam que sua cota de dois filhos fosse preenchida exclusivamente por meninos. No fim das contas, esse pseudo planejamento resultou em enorme fiasco. E hoje o país conta com população de 1,4 bilhão de habitantes, uma exorbitância.

A Índia, que por muitos anos dominou os noticiários internacionais por causa dos periódicos surtos de fome de sua população, também tentou controlar a explosão demográfica, mas por método diferente do chinês. Lançou campanha de incentivo à vasectomia, para a população masculina, dando, a quem se dispusesse a se submeter a essa prática, a título de incentivo, rádios de pilha. Isso, igualmente, não funcionou e se constituiu por muito tempo em motivo, até, de galhofa mundo afora. E hoje, em decorrência desse fracasso, o país ostenta o segundo maior contingente populacional do Planeta, com mais de 1,1 bilhão de habitantes.

Sobre esse problema, Aldous Huxley escreveu, em determinado trecho do livro “Volta ao admirável mundo novo”: “No primeiro Dia de Natal, a população do nosso planeta contava perto de duzentos e cinqüenta milhões de seres humanos – menos da metade da população da China atual. Dezesseis séculos após, quando os peregrinos desembarcaram em Plymouth Rock, o número de seres humanos subiu para um pouco além de quinhentos milhões. Por ocasião da assinatura da Declaração da Independência, a população terrestre ultrapassara a cifra de setecentos milhões. Em 1931, quando estava escrevendo o Admirável Mundo Novo, apresentava um número próximo aos dois bilhões. Hoje, apenas vinte e sete anos após, há dois bilhões e oitocentos milhões de seres. E amanhã – quantos?” Isso ele escreveu em 1958.

A resposta à sua pergunta, a quanto chegaria a população mundial é: até fins de 2012, havia chegado a 7,1 bilhões de habitantes. As projeções da Divisão de População da Organização das Nações Unidas apontam três cenários diferentes para 2100, que não tardará a chegar. O mais otimista, prevê redução populacional espontânea, mediante queda na Taxa de Fecundidade, da média atual de 2,5 filhos por casal, para 0,5. Caso permaneça a mesma, chegaremos a 2100 com 16 bilhões de habitantes. Se cair para 0,5, a população será reduzida para 6 bilhões. A probabilidade, na minha projeção (e tomara que eu esteja errado) é que a cifra fique nos 12 bilhões ou algo próximo a isso.

Huxley estava certo, pois, em suas previsões no livro “Volta ao admirável mundo novo”, ao colocar a superpopulação como a questão mais aguda e mais urgente para a humanidade equacionar num futuro próximo que, no final das contas, já chegou. Escreveu, a propósito: “O problema dos números, que rapidamente se multiplicam em relação aos recursos naturais, à estabilidade social e ao bem-estar dos indivíduos, é a questão fundamental da humanidade; e permanecerá sendo o problema crucial por outro século e talvez por muitos outros séculos no futuro. Supõe-se que uma nova era se iniciou a 4 de outubro de 1957. Porém, no contexto presente, toda a nossa exuberante conversa pós-Sputnik é irrelevante. Se tomarmos como ponto de referência as massas de humanidade, a era vindoura não será a Era do Espaço e sim a Era da Superpopulação”. Este é o gigantesco, o complicado, o imenso desafio que a humanidade tem que vencer. O que fazer diante disso? Sim, o que fazer? Fica uma mega interrogação no ar para todos nós.

Boa leitura.

O Editor.

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Um comentário:

  1. Como arrumar comida para tanta gente é a grande pergunta, mas onde colocar os dejetos produzidos? O lixo já está funcionando como bumerangue. Vai, bate e volta. E agora, José?

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