quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Imagem: Wikimedia Commons



O melhor negócio do mundo

* Por Marcelo Sguassábia

- Indo direto ao assunto: a proposta é vendermos cartucho a preço de impressora e impressora a preço de cartucho. Resumidamente, é isso.
- Meio confusa e incoerente essa ideia, não? Explica melhor.
- De novo, curto e grosso: impressora a 170 reais e cartucho de tinta colorido mais o black a uns130 o conjunto.
- Mas com base em que iremos justificar esse preço exorbitante dos cartuchos de tinta? Todos sabemos que, somados todos os insumos e a margem de lucro, o preço final justo seria muitíssimo menor que esse.
- Já pensei nisso. Vamos nos calçar numa hipotética tecnologia HighPrint Ultra Extra Long Lasting Performance. Deu pra entender o raciocínio? Já passei para a gerência de produtos a tarefa de criar um nome bem "tecno" e sonoro.
- Isso não vai funcionar, o consumidor não é bobo. Nada no mundo seria mais caro que tinta de impressora. Até as raríssimas trufas brancas italianas seriam mais baratas, concorda? Não demoraria nada para surgirem fabricantes com cartuchos compatíveis, vendidos pela metade do preço. E ainda assim ficariam ricos.
- Por mais que surjam e cresçam os mercados paralelo e o de remanufaturados, ainda assim será imensa a demanda pelo produto original da impressora. Faremos uma campanha unindo relações públicas, assessoria de imprensa e propaganda, onde venderemos a ideia de superioridade e de garantia da marca original. Quem vai querer arriscar um trabalho mal impresso ou uma foto borrada? Quem?
- Mas...
- E tem outra, meus caros. Quem usa muito a cor amarela nas impressões, por exemplo. Essa tinta fatalmente vai acabar antes das demais, e isso forçará o consumidor a substituir o cartucho todo. O incauto usuário pagará preço do cartucho inteiro para só usar 25 ou 30% dele. Se for ainda mais bonzinho e devolver o cartucho usado nos nossos pontos de coleta, poderemos reaproveitar a tinta remanescente. Ganhamos os tubos, ou melhor, os cartuchos, e ainda passaremos a imagem de empresa ambientalmente responsável. A jogada é perfeita!

O diálogo pode ser fictício, mas não parece estar tão distante da realidade. Veja o leitor os dados abaixo, levando em conta que os valores não estão atualizados, pois são de 2009.

“A grande sacada dos fabricantes: oferecer impressoras cada vez mais e mais baratas, e cartuchos cada vez mais caros. Nos casos dos modelos mais baratos, o conjunto de cartuchos pode custar mais do que a própria impressora. Veja: pode compensar mais trocar a impressora do que fazer a reposição de cartuchos. Exemplo: certa marca de impressora é vendida nas lojas por aproximadamente R$ 170,00. A reposição dos dois cartuchos (10 ml o preto e 8 ml o colorido), fica em torno de R$ 130,00. Daí, você vende a sua impressora seminova, sem os cartuchos, por uns R$ 90,00 (para vender rápido). Junta mais R$ 80,00, e compra uma nova impressora e com cartuchos originais de fábrica.

Para piorar, de uns tempos para cá, os fabricantes passaram a DIMINUIR a quantidade de tinta (mantendo o preço). Um cartucho com 10 ml custa R$ 55,99. Isso dá R$ 5,59 por mililitro. Só para comparação, a champagne Veuve Clicquot City Traveller custa R$ 1,29 por ml. Além disso, algumas impressoras estão vindo somente com 5 ml de tinta!

Uma outra linha de impressoras vende um cartucho para a linha X com 5,5 ml de tinta colorida por R$ 75,00. Fazendo as contas: 1.000 ml / 5,5ml = 181 cartuchos a R$ 75,00 = R$ 13.575,00. Isso mesmo: R$ 13.575,00, por um litro de tinta colorida.”

Fonte: http://projetoriovivo.blogspot.com.br

• Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).

2 comentários:

  1. Mexeu fundo na ferida, e não vazou sangue, mas tinta. Até que enfim alguém desnudou a triste realidade do roubo de cartuchos não disfarçado. Tive uma impressora CANON que consumia dois cartuchos por semana em uso doméstico e domesticado, sem exageros de uso e de registro. Com dois meses de tinta era possível comprar outro computador. A tal impressora quase nos levou a falência. Com a sua explanação, Marcelo, sinto-me vingada.
    PS: Pode ser que eu esteja enganada, mas parece que já li esse texto.

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  2. Oi, Mara. Obrigado pelo comentário. O que você já deve ter lido é a parte que está entre aspas - cujo conteúdo se encontra no blog citado e em milhares de outros sites, além de ter viralizado internet afora através de emails. Um grande abraço.

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