sexta-feira, 1 de maio de 2009


Sem perder a viagem

* Por Luís Delcides R. Silva


I – Preparativos

Sábado, meio-dia. Em meio ao agito e à arrumação das roupas, malas, pertences do cachorro e alguns alimentos para um day-camp com a família, um Verona azul pára em frente à garagem da casa e o homem, todo espertinho e faceiro, toma a iniciativa e começa a dar intermináveis beijos na boca da garota que estava ao lado no banco do carona.

Um pouco mais à frente, no 274 da Ursa Menor, vários fiscais da subprefeitura de São Mateus, autuando um morador, que deixou entulho na calçada e invadia quase metade da via.

Á medida que arrumava as coisas no meu carro, os beijos e os abraços calorosos se intensificavam, em meio à movimentação e à vontade de sair da garagem e pegar a estrada.

Logo aos 45 minutos, depois do "rala e rola", saio com o meu carro e o casal continua nos agarra-agarras dentro de seu veículo da cor do céu. Já os fiscais municipais saíram e a correria era para limpar a calçada e parte da rua.

II - Saída

Uma passadinha no posto de gasolina, abastecer o tanque do veículo e dar uma calibradinha nos quatro pneus. Enfim, sigo até a casa da minha irmã na Cidade Lider, região de Artur Alvim, para buscar a minha sobrinha.

Durante o trajeto encontro motoristas desastrados, gente que mal sabe o que é uma placa de sinalização, não respeita o que é preferencial e não sabe ser gentil com os outros que trafegam pela via. É a lei do mais forte.

Ao chegar à casa da minha irmã, fico espantado com a quantidade de crianças no meio da rua. E ao chegar à casa, uma mulata que escutava um "pagodão" no último volume estava tão desnorteada que nem viu quem estava embaixo batendo palma.

Quando fui atendido, muitas crianças estavam correndo. Durante a conversa, minha irmã mais nova disse que uma garota, que estava no meio daqueles meninos brincando no quintal, é neta de uma moça de 40 anos de idade.

Pasmos com a noticia, seguimos para Guararema, em direção à chácara da minha irmã mais velha...

III - Chegada

Ao abrir o portão, os cachorros vêm me recepcionar. Pitty, uma cadelinha preta SRD (sem raça definida), super amorosa, dengosa e cheia de graça, veio em minha direção para me cumprimentar. Segui com o meu carro até a porta da casa.

Ao descer, encontrei a minha irmã e meu pai sentados à mesa, tomando um chope e ouvindo algumas músicas do Chico Buarque que tocava num toca-discos.

O almoço é servido. Durante o almoço ela põe um disco do Milton Nascimento e a primeira música é Coração de Estudante, gravada em 1983 e com um belo acompanhamento de piano de Wagner Tiso, um dos melhores maestros deste país que, um dia, gostaria muito de entrevistar para o blog, que é um projeto de web-jornalismo da faculdade.

Viro o outro lado do disco. Ao avançar as faixas, e quando começou a tocar a belíssima Canção do Novo Mundo, composta por Milton e Beto Guedes, os meus olhos começaram a se encher de lágrimas. Por mais que tentava me conter, a letra rasgava o meu ser e só conseguia amenizar minha emoção cantarolando bem baixinho a melodia.

IV - Conclusão

Não consigo escrever mais. Alguns acham que sou muito sensível. Já houve algumas garotas que colocaram em xeque a minha masculinidade devido ao meu sentimentalismo, especialmente as da “crentolândia”.

Sonhei um sonho estranho, que foi interrompido por uma voz esquisita, que pedia para que eu voltasse e pagasse uma dívida. A voz do além, que não faço a mínima ideia de onde ela veio, durante a madrugada, dizia que por mais que eu pagasse as minhas contas, havia um débito com uma mulher, com um ser que simplesmente optou em gostar de um garoto mais novo e totalmente nerd sustentado pelos pais.

Não quero perder o trem da história! Desejo seguir, pois tem gente muito interessante e não posso ser mais um covarde a me esconder diante de um novo mundo. As canções vão ficar em minha memória, mas a força bruta jamais apagará os meus sonhos.

* Micro-empresário, estudante de jornalismo, escreve para o blog Casos Urbanos e é um dos editores do blog Paulicéia do Jazz

Um comentário:

  1. Mais um homem sensível manifestando-se aqui no Literário. As mulheres não costumam reclamar. Passeios de carro com boa música geralmente agradam.Vivam o amor e a sensibilidade!

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