sábado, 3 de fevereiro de 2018


Da Musa e do tema

* Por Flora Figueiredo

Calou-se o poeta por um momento
para esperar a musa
que se escondia
fria, opaca, indiferente,
em alguma estrela escusa.
Fechou as portas da poesia,
trancou o verso,
deixou o canto submerso em melancolia.
Cerrou as vidraças do encantamento,
aprisionou o vento, portador de trovas;
as rimas novas arquivou no peito.
Deu-se ao direito de dobrar a vida
até que, a lágrima perdida
num instante de desalinho,
fez-se gasosa
e evaporou no íntimo da rosa.
Retornada a musa de sua insensatez,
reintegrou-se o poeta e poetou mais uma vez. 

In Florescência, 1987 

* Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida. 


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