Grande
muralha
* Por
Marcelo Sguassábia
Os
chineses fazem qualquer negócio. Sabem comprar e sabem vender.
Arrematam na bacia das almas, passam pra frente a peso de ouro. Têm
a manha de copiar o que o mundo faz de melhor, aperfeiçoar e
exportar para a Via Láctea inteira por uma décima parte do preço
de mercado.
Um
dos desafios atuais do gigante vermelho é como fazer dinheiro do seu
maior e mais valioso patrimônio – a Grande Muralha da China.
Construída ao longo de vinte séculos, estende-se ao longo de
inacreditáveis 21.196 km e tinha como finalidade original defender
as divisas do país contra as invasões de outros povos,
especialmente os mongóis.
Com
os mongóis deixando de ser ameaça, essa maravilha da humanidade
passou a não ter utilidade alguma além de servir de cenário para
fotos turísticas. A lenda arquitetada em torno dela, de que seria a
única obra feita pelo homem visível da lua a olho nu, caiu por
terra em 2004, quando um astronauta chinês afirmou que do espaço
não se enxergava muralha nenhuma. Aliás, é de se supor que quem
concebeu tal idiotice viajou na maionese, pois nunca esteve na lua
para vir com uma história dessas.
A
primeira ideia ocorrida aos neocapitalistas foi bater a marreta em
tudo e exportar nacos a preço de banana para cada terráqueo
vivente. Mas um chinês de visão dividiu sete bilhões de possíveis
compradores pela gigantesca área da muralha e chegou à conclusão
de que o souvenir seria maior do que a casa que o abrigaria, mesmo
que fosse uma mansão de príncipe saudita. Ainda iria sobrar muita
muralha, uma outra solução teria que ser encontrada.
Hoje,
duas alternativas despontam como as mais viáveis para fazer dinheiro
da imensa e inútil tripa de pedra.
Reformatório
para pichadores brasileiros.
Um inédito acordo de cooperação entre Brasil e China preveria o seguinte estratagema, vantajoso às letras B e C do BRICS:
1)
Venda de tinta spray chinesa a preços módicos para o Brasil.
2)
Espetacular crescimento de vendas da tinta no mercado interno, pelo
custo inacreditavelmente baixo, atraindo pichadores e aspirantes à
prática.
3)
Aplicação de multas extorsivas aos meliantes pegos com a mão no
spray, com arrecadação extra para Estados e municípios.
4)
Deportação dos contraventores tupiniquins para os domínios de
Mao-Tsé. Lá, se debruçarão à vontade sobre os 21.960 km de
muralha e gastarão 50 latas de spray cada um para escreverem
repetidamente a seguinte frase: ”A pichação não compensa”. Em
seguida, receberão do governo chinês latas de removedor e palhas de
aço para apagarem da muralha a merda que fizeram. Os removedores
serão comprados pelos brasileiros, com vantagens para a China em
duas frentes – venda de removedor e limpeza da muralha, que há
séculos vem pedindo por uma boa manutenção.
A
outra alternativa em estudo consiste na venda de parte da muralha
para Donald Trump edificar o muro na divisa com o México. Essa opção
esbarra no problema, até o momento incontornável, da entrega da
mercadoria. A parte vendida da muralha teria que ser fatiada em
milhares de pedaços, transportada em imensos navios e reunificada no
local de destino. A manobra levaria décadas ou mesmo séculos. Até
lá, Trump já teria concluído seu mandato e o presidente que o
substituísse poderia muito bem mudar de ideia, tornando inútil todo
o esforço.
*
Marcelo
Sguassábia é redator publicitário. Blogs:
WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e
WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).
Deixando o bom-humor de lado, há imensos gastos de energia para nada. Lá como cá. Na China eles terminam o que começam, já no Brasil vemos muitas obras inacabadas.
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