Preço do triunfo
Os
fins “sempre” justificam os meios? Há pessoas que garantem que
sim e agem dessa forma, como se essa fosse a conduta normal dos
vencedores. Depende, porém, de quais são essas “finalidades” –
se são, de fato, benéficas e não prejudicam ninguém ou se para
serem alcançadas alguém terá que perder – e quais as estratégias
que empregamos para atingi-las. Se forem a competência, o
conhecimento e as ações construtivas, serão métodos desejáveis e
aprováveis. Caso contrário...
Ademais,
creio que deva haver muito cuidado no emprego dessa palavrinha
“sempre” – que considero um tanto pernóstica – e de sua
antônima, “nunca”. A primeira pressupõe que seja possível uma
absoluta impossibilidade humana: a eternidade. Sugere algo que não
tem começo e nem fim. Não é o caso, evidente, do homem.
Já
a segunda palavra tem a conotação de algo que não se possa fazer
ou alcançar jamais, interdito a quem quer que seja. Diante de tanta
maravilha que já vi, nos meus tantos anos de vida, no entanto, chego
à conclusão que é apenas “impossível Deus pecar”. No mais...
Considero, pois, impróprio o emprego da palavra “nunca”, assim
como da sua antônima “sempre”. Pode parecer mero preciosismo
vocabular, mas não é. Para deixar claros os conceitos que
abordamos, temos que empregar as palavras de forma correta, com seu
real e estrito significado.
Muito
bem, se é verdade que os fins nem sempre justificam os meios, não é
menos real que eles “nunca” os justifiquem. Há situações em
que quaisquer ações são justificáveis face às suas finalidades.
Exemplo? Embora eu seja totalmente avesso a qualquer tipo de
violência, faria vistas grossas, no entanto, se ela fosse empregada
para pôr fim a uma tirania. Neste caso, o fim justifica o emprego de
todo e qualquer meio. Inclusive desse. Isso, porém, é sumamente
raro.
Há
pessoas que fazem de tudo para atingir determinados objetivos. Entram
em competição com os outros só para ganhar. Não admitem derrota
em nenhuma circunstância. Não lhes importa se o que fazem é lícito
ou ilícito, moral ou imoral, ético ou aético. Para elas, só a
vitória conta.
Sacrificam
amores, amizades, valores e tudo o mais no afã, na desesperada
tentativa, na obsessão de vencer. Às vezes, conseguem o seu
objetivo. Chegam ao “topo do mundo”, mas a que preço? Ademais,
não permanecem por muito tempo no alto. E quanto maior for a altura
que atingirem... maior, claro, será a queda, quando acontecer.
São
inúmeras as pessoas, mundo afora, que, obcecadas pela fortuna, fama
e poder, agem como o célebre personagem de Goethe, o tão conhecido
Fausto. Ou seja, vendem a alma ao diabo, em troca desse ilusório e
pífio objetivo. Acham que enganam o gênio do mal e que não terão
preço algum a pagar pela imprudente permuta. Claro que se enganam.
Sempre chega o dia fatídico do resgate da dívida, quando, então,
percebem que não são tão espertas quanto supunham e que obtiveram,
somente, a tal “vitória de Pirro”, que na verdade, a despeito
das aparências, é fragorosa derrota . Mas aí... já é tarde,
muito tarde para recuar.
Conheço
inúmeros casos de pessoas que sacrificaram sólidas amizades por uma
promoção no trabalho, por exemplo. Fizeram intrigas sobre amigos
para a direção da empresa, por eles estarem à sua frente na
competição por uma posição mais elevada e melhor remunerada,
sabotaram seus projetos, se apropriaram de suas ideias e lograram,
por meios tão torpes, seu objetivo.
Ou
seja, agiram como Judas, que vendeu Jesus Cristo por 30 moedas,
usando os mesmos argumentos do apóstolo infiel. Todavia, não tardou
para que suas tramoias e artimanhas fossem descobertas. Como Fausto,
que perdeu a alma para o diabo, por transitórias glória, fortuna e
poder, tiveram, também, perda total. Ficaram sem emprego e sem o
amigo. E, principalmente, sem reputação.
Casos
desse tipo, infelizmente, são bastante comuns. Não se constituem,
pois, em exceções, mas se transformaram (infelizmente) em regras de
conduta. Provavelmente você, caro leitor, conheça um ou mais
episódios desse tipo. Ou foi, até mesmo, vítima de alguma dessas
decepcionantes traições. Acho lícitas as competições, desde que
dentro de regras rígidas, iguais e consensualmente aceitas. Fora
disso…
“Triunfos”
desse tipo são ilusórios, falsos, enganadores. Por serem
transitórios, escondem, na verdade, contundentes derrotas no seu
desfecho. É só questão de tempo. O poeta indiano, Rabindranath
Tagore, escreveu estes versos, que soam a aforismo repleto de
sabedoria e verdade:: “Há triunfos que só se obtêm pelo preço
da alma, mas a alma é mais preciosa que qualquer triunfo”.. E não
é verdade? O Fausto de Goethe e os demais “Faustos” mundo afora
que o digam.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Raramente uso as palavras sempre e nunca em meus textos, por achá-las desnecessárias. Agora vejo aqui outros motivos.
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