Singular infelizmente
* Por
Lívia Lessa
Ao começar mais um dia Lígia
programa todo seu tempo. Sempre aprisionada ao exacerbado pragmatismo
metódico o que a induz a decidir o que irá acontecer em cada
minuto. Ou melhor, ela pensa que programa a própria vida como se
administra uma empresa.
Não imaginava Lígia que as
respostas dos seus questionamentos não eram visíveis apenas
projetadas no mundo das idéias. É no planeta egocêntrico e
inatingível por muitos que Lígia por meio das analises filosóficas
encontra sua única válvula de escape.
Era impossível imaginar que
naquele dia de terça-feira tudo conspirava a favor da jovem. A noite
exausta de mais uma jornada de trabalho ao retornar pra casa Lígia
encontra Álvoro. Desprovidos das previsões eles observam que aquele
simples encontro na percepção de ambos aguçava muito mais que a
melodia da Bossa Nova.
Em Álvoro que Lígia descobre
que a vida é muito mais que existir, é também viver e sentir. As
horas passam, a jovem encontra a plenitude. É quarta-feira e Álvoro
propositalmente ou não se afasta tratando Lígia como um cristal.
A jovem fica confusa, sem
entender o por quê do desmoronamento. Álvoro foge e Lígia agora
está lendo a obra do filosofo francês Paul Sartre, O
ser e o nada, e
todos os dias dedica alguns minutos para ouvir Todo
Sentimento na voz
de Chico Buarque de Holanda.
E os dias passam lentamente,
ambos seguem caminhos opostos, algo eles ainda têm em comum, não só
eles, mas muitos que vivem essa tal pós-modernidade. A depressão,
os questionamentos, as insatisfações, a alusão
ao passado junto à expectativa do futuro que se torna um impedimento
para se viver o presente
e o constante vazio existencial que levam as pessoas a se julgarem um
“nada” e acreditarem numa pseudo- liberdade.
*Jornalista.
Cursou, também, Licenciatura em Ciências Sociais na Universidade
Federal de Sergipe. Em 2005, quando estudante de Jornalismo,
participou do Concurso Direitos Humanos Petrobrás de Jornalismo, no
qual a reportagem “Violência contra a mulher: um problema social”
recebeu prêmio de melhor texto em jornal-laboratório, e na
edição de 2006 a matéria “Especiais têm dificuldade
em se integrar na sociedade” ganhou o segundo lugar nesse concurso.
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