A
descida do anjo
* Por
Talis Andrade
Desceu
um Anjo 
e
cingiu-lhe a fronte 
de
rosas e beijos. 
Coa
madrugada, 
quando
ele partiu 
nem
sequer sentiu 
a
ferida que sangrava, 
desde
que era jovem 
e
imensamente belo. 
No
segredo do quarto, 
quando
retornou a noite, 
começou
a sofrer 
uma
excessiva sensibilidade 
que
não lhe deixava dormir. 
O
corpo era todo olfato: 
as
narinas aguçadas 
por
estranhos cheiros 
trazidos
de longe 
pelo
vadio vento. 
Os
ouvidos sondavam sons 
vindos
das florestas: 
os
gritos dos animais em luta, 
os
gritos dos animais no cio. 
Os
ouvidos sondavam sons 
dos
mais profundos abismos. 
Os
ouvidos detectavam estranhas falas 
de
longínquos países: 
as
vozes das casas vivas, 
os
lareiros, os fogões acesos. 
A
visão acordada. 
Os
olhos - que se deslumbraram 
com
o colorido das flores, o encanto das mulheres - 
aguardavam,
no distante horizonte, 
uma
aparição alada. 
Contraído
e indefeso 
no
canto da noite, 
sofria
o frio 
de
quem está nu, 
sofria
o calor 
de
quem arde 
desejoso
de amor. 
Chegado
o sétimo dia, 
ansioso
pela espera, 
profanou-se
com os homens 
pela
desconcertante semelhança 
com
o Anjo. 
E
passados mais sete 
longos
parados dias 
foi
encontrado boiando 
no
lodo resvaladiço. 
Escorria
da boca 
podre
sangue azul. 
A
linda boca, vermelha 
de
papoulas e beijos, 
ainda
hoje permanece 
umedecida
de pus. 
*
Jornalista,
poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em
História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como
a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do
Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A
República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o
recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).
 



 
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