Pessoas insubstituíveis
O
beijo da pessoa amada é um dos momentos de intimidade mais
profundos, mágicos, deliciosos e inesquecíveis que existem num
relacionamento amoroso. Pode-se dizer que é uma das mais íntimas
comunhões de dois corpos e duas almas. Ouso afirmar, até, que se
trata de um “diálogo” direto, enfático e profundo entre um
homem e uma mulher que se amam, sem precisar ao menos de uma só
palavra.
Mais
intenso e precioso o beijo se torna, porém, caso seja conquistado:
se for manifestação espontânea de agrado, da pessoa a quem amamos,
por nossos gestos de carinho e manifestações de respeito. E caso
tenhamos a desventura de perder nosso grande amor, são os beijos
trocados os momentos que nos despertam as mais ricas e preciosas
recordações.
Seria,
contudo, esta a maior delícia da vida? Diria que é uma delas. Se
fizermos uma enquête a respeito constataremos, sem nenhuma surpresa,
que nove entre dez pessoas sadias e normais responderão que nada no
mundo é mais delicioso do que o amor correspondido. Ainda que sem
correspondência, esse sentimento está repleto de satisfações
íntimas, posto que sempre haverá a esperança de que um dia a
pessoa que nosso coração elegeu como amada venha a corresponder ao
que sentimos por ela.
Não
é por acaso que este é o tema de predileção dos poetas. E, por
mais que eles escrevam, que se esmerem em imagens e metáforas,
jamais conseguirão expressar, com fidelidade, tudo o que sentem,
porquanto esse sentimento é inexprimível em palavras. Outra
manifestação que merece destaque são as lágrimas, eficazes
válvulas de escape criadas pela natureza para amainar as emoções e
evitar que façam estragos em nossa saúde.
Não
fossem elas, o coração dificilmente resistiria os grandes impactos
emocionais que, vira e mexe, nos acometem. São sempre bem-vindas
quer em situações de angústia e desespero – aos quais acalma e
alivia – quer nas de extrema alegria, ou, principalmente, de
euforia. Constituem-se, por outro lado, em poderosas armas femininas.
As
mulheres conseguem, de mim, tudo o que querem, quando choram. Não
suporto vê-las chorar! As lágrimas estão sempre presentes nos
casos de amor, reconciliando ou separando de vez os casais. Todavia,
nenhum momento passado com a pessoa amada é mesquinho ou banal.
Quem
ama, não esquece um só episódio desse grande amor, que dá encanto
e transcendência mesmo a uma vida aparentemente pacata e vazia. Mas
o instante que os amantes consideram mais marcante, é o do primeiro
encontro, da primeira impressão, das primeiras palavras trocadas, do
primeiro contato e, o clímax, do primeiro beijo.
É
um momento que nunca mais se apaga da memória dos que se amam. O
poeta cubano, Fayad Namis, compara-o aos fatos mais marcantes da
história humana. Conclui que, para os amantes, é mais importante
até do que a invenção da roda, a descoberta do fogo, a criação
da escrita etc.
Por
isso, algumas perdas que temos na vida são irreparáveis e nos
deixam um imenso vazio, impossível de ser preenchido, na alma. Há
pessoas que, contrariando o ditado, são, de fato, insubstituíveis
em nossa estima e consideração. Mas não precisamos esquecer os que
nos deixaram (ou porque morreram, ou porque se separaram de nós e as
circunstâncias colocaram todo um continente de distância ou por
outro motivo qualquer), quer seja a pessoa amada, quer parentes ou
amigos.
Nossas
saudades são livres e velozes e não se limitam nem pelo tempo e nem
pelo espaço. Subitamente, sem nenhum aviso, trazem-nos à mente,
mediante a recordação, essas pessoas que muito amamos e das quais
nos separamos em decorrência de alguma circunstância.
Levam-nos,
em suas velozes asas, de volta a períodos e lugares em que fomos
felizes e que deixaram marcas indeléveis em nossos corações e
mentes. E esses seres especiais, locais marcantes e episódios
felizes tanto podem ser bastante remotos, da nossa infância, como
recentes, de poucas horas atrás, por exemplo.
Às
vezes nos deixam nostálgicos, outras, nos servem de consolo. Da
minha parte, busco não sofrer com saudades. Agradeço, isto sim, a
Deus, pelo privilégio de ter conhecido aquelas pessoas que me
marcaram ou de haver vívido aqueles momentos jubilosos e ímpares.
Podemos,
e devemos, guardá-los para sempre na memória e os homenagear com
freqüência, lembrando-nos como eram e o que fizeram. É uma
obrigação afetiva que temos com essas pessoas, circunstâncias e
lugares. O poeta Farias de Carvalho escreveu o seguinte, neste poema
de título comprido, mas de rara beleza, intitulado “Ao irmão
Agostinho Caballero Martin, no seu regresso”:
“Como
vieste,
foste,
cavalgando
uma estrela.
Agora,
sim,
será
certo e tranqüilo procurá-la
nos
rebanhos do azul pelo infinito”.
Portanto,
há ou não há pessoas insubstituíveis? Claro que sim!!!
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Saudade matadeira.
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