domingo, 13 de agosto de 2017

O ensaio

* Por Rodrigo Ramazzini

- Um, dois, três, valendo... Como não era você, João Antônio?
- Não era.
- Como não era? E aquela foto no site que cobriu o evento?
- Que foto?
- Como você podes ser tão mentiroso João Antônio?
- Eu mentiroso? Se não quer acreditar que eu estava com o pessoal do carteado e não nesta maldita festa, não acredita. Pronto!
- E a foto João Antônio? E a foto João Antônio? O que você me diz?
- Sei lá! Eu não posso julgar algo que eu não vi...
- Conheço aquela sua camisa preta de longe, João Antônio.
- Só eu tenho camisa preta no mundo... Só eu! Digo novamente em alto e bom som: eu não estava nesta festa que você me acusa de estar! Eu estava com o pessoal do carteado no clube. Ponto final.
- Você é muito mentiroso, João Antônio. Que cara de pau, hein!
- Não quer acreditar não acredita... Eu vi a foto e...

- João, você falou antes que não viu a foto, agora está dizendo que viu. Não se contradiga...
- Tem razão Adalberto. Deixe-me pensar... Melhor dizer que vi a tal foto, né? Melhor! Continuando...

- Eu vi a foto e não dá para averiguar com precisão o rosto do cidadão que está com a camisa preta. Estou certo ou não estou?
- Está João Antônio! E daí?
- Então! Mesmo sem uma real prova, você saiu me acusando...
- Eu vou ligar para a Paulinha, ela estava nesta festa.
- Se ligar o nosso noivado está acabado...
- Chantagem numa hora dessas, João Antônio? Está com medo que ela confirme que o viu na tal festa?
- Ligou... Acabou. Você escolhe? Por que não liga então para o pessoal do carteado e questiona se eu não estava com eles até àquela hora?
- João Antônio, você acha que eu sou boba? Ligar para os seus cúmplices? Era só o que faltava...
- Amor! Eu não estava nesta festa. E se estivesse, diga-me: o que eu faria lá? Quantas vezes será preciso dizer-lhe que tenho apenas olhos para você?
- Como vou saber que realmente você não estava na festa? Jura que não estava?
- Você não confia em mim mesmo depois desses anos todos juntos? Claro que juro! Juro pelo nosso amor!
- Se eu descobrir que você estavas nesta festa, você vai ver o seu... Você me paga!
- Amor! Já falei que a amo, hoje? Vamos parar de brigar, vamos? Um beijo daqueles para decretarmos “paz”, por favor? ...Chega! Está ótimo. Podemos parar por aqui Adalberto. Obrigado! E aí Albuquerque, o que você achou do ensaio, da encenação? Convincente? Transpareci estar mentindo? E as feições do rosto?
- Que atuação! Se eu não estivesse com você, eu até acreditava que você realmente não foi à tal festa...

Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!

- Ótimo! Ensaiado estou. Agora é só encarar a fera. Tchau pessoal! Obrigado novamente. Torçam por mim! Fui para a casa da minha noiva..

* Jornalista



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