Exaustão
* Por
Flora Figueiredo
Eu
queria tanto, tanto
que arrisquei todas as maneiras
e todos os feitiços.
Pedi até ao santo
que andava de muito
meio omisso
e no ardor da reza,
até chorei.
Só que santo não se comove
com lágrimas de fiel;
acho que lá do céu
é difícil avaliar a extensão
da corrosão da água corrente.
(Mas mesmo assim eu permaneço crente.)
Desapontada, tentei a encruzilhada,
o guru,
a cartomante.
Como não fosse o bastante,
passei a ter sempre à mão
frases de efeito contundente
e poder de convicção.
Abusei do pensamento positivo:
tudo serviu como lenitivo.
Num compasso de cansaço
e frustração,
vou carregando agora a sensação
de finitude.
... porque te amei muito mais do que te pude.
que arrisquei todas as maneiras
e todos os feitiços.
Pedi até ao santo
que andava de muito
meio omisso
e no ardor da reza,
até chorei.
Só que santo não se comove
com lágrimas de fiel;
acho que lá do céu
é difícil avaliar a extensão
da corrosão da água corrente.
(Mas mesmo assim eu permaneço crente.)
Desapontada, tentei a encruzilhada,
o guru,
a cartomante.
Como não fosse o bastante,
passei a ter sempre à mão
frases de efeito contundente
e poder de convicção.
Abusei do pensamento positivo:
tudo serviu como lenitivo.
Num compasso de cansaço
e frustração,
vou carregando agora a sensação
de finitude.
... porque te amei muito mais do que te pude.
In
Calçada de Verão, 1989
*
Poetisa,
cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a
noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão
Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo
e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua
intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça
- às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre
dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal,
seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida.
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