O mundo vai esquentar
* Por Marcos Alves
Não quero soar
como trombeta do apocalipse e tampouco escrever um artigo científico, que não é
minha especialidade. Mas incomoda o fato do aquecimento global ter deixado de
ser um problema ambiental para se tornar algo muito mais urgente e importante.
Há vários estudos em andamento, mas é quase certo que a temperatura no planeta
vai aumentar até cinco graus e que o nível dos oceanos vai subir uns 30 cm até o final deste
século. Não é pouco, acreditem. Pouco é o que está sendo feito para conter o
avanço do aquecimento global.
É esse o tom
das discussões na conferência da ONU sobre mudanças climáticas, durante o mês
de novembro, no Quênia. Até os cientistas mais cautelosos admitem que o
aquecimento do planeta chegou a um ponto sem volta. O secretário-geral da ONU,
Kofi Annan, disse que não é mais possível ignorar os desafios impostos pelas
mudanças climáticas. Há projeções sombrias sobre a relação entre calor e
disseminação de doenças como a malária e a febre amarela. Com a destruição de
plantações e pastagens, o resultado a médio prazo será a fome, e as migrações
de povos em busca de condições mais favoráveis. A guerra por causa de água e
comida.
Outra coisa que
dá a sensação de que as coisas realmente não vão bem é a falta de perspectiva
de melhora das condições climáticas. É possível vislumbrar um quadro bem mais
favorável para as futuras gerações pela redução gradual da emissão de gases
formadores do efeito-estufa. Mas isso parece improvável. Os números sobre o aquecimento
do planeta aumentam geometricamente, ao passo que as estatísticas sobre
progressos na redução da emissão de gases e diminuição do desmatamento não
chegam a ser animadoras.
E é aí que o
Brasil entra, ou melhor, fica devendo. E muito. A ponto de receber de algumas
Ongs, governos estrangeiros e ambientalistas o prêmio simbólico de “Fóssil do
dia”, pela recusa em aceitar o estabelecimento de metas de redução do
desmatamento. Para piorar, chegou-se à conclusão que a devastação das florestas
têm diminuído sim no Brasil – não como efeito de políticas públicas mas pelo
desaquecimento da atividade econômica. O negócio anda ruim para as madeireiras.
Todo mundo
precisa fazer mais. O que me espantou foi a frase, extremamente realista, de um
cientista presente ao encontro. Ele acha que a humanidade pode sim encontrar o
caminho para reduzir o super-aquecimento do planeta, mas não a partir da tomada
de consciência que culmine por modificar o comportamento das empresas e
pessoas. Mas por meio da tecnologia!!
Uma espécie de
remedinho ou prótese que conceda a cura coletiva, se enxergarmos o
apodrecimento do planeta com uma doença degenerativa. Algo como o alcoolismo ou
o vício da cocaína em estágio avançado. Tem gente querendo lançar grandes
quantidades de enxofre na estratosfera, de forma a conseguir efeito semelhante
ao que acontece depois da erupção de um vulcão. De fato, a atmosfera resfria –
como ocorreu no século 19, quando nos dois anos posteriores à erupção do vulcão
Krakatoa, na Indonésia, a temperatura na terra caiu. Mas se isso for feito de
forma induzida há o risco de chuva ácida e prejuízos incalculáveis para a vida
marinha.
Difícil
imaginar as pessoas mudando de atitude. Cada vez que ando na rua vejo mais
papel, plástico, restos de comida e tudo que é tipo de dejeto na calçada. Na
beira da lagoa da Pampulha mesmo, muita gente joga o lixo na margem. Se pensar
nas cidades superpopulosas da Índia, na África, fica difícil acreditar em uma
mudança planetária.
E as indústrias
poluidoras, que produzem toneladas diárias de rejeitos? Só no Brasil são
centenas, talvez milhares de curtumes e outras empresas com instalações
precárias, gente sem preparo, e a preocupação em não poluir movida apenas pelo
temor de ser apanhado pela fiscalização.
O Brasil sempre
vai estar bem posicionado em qualquer tipo de ranking ecológico. As condições
naturais, extensão, volume e diversidade de recursos são um privilégio. O país
tem uma matriz energética limpa e pode lucrar com futuros acordos globais de
cooperação energética e ambiental. Mas precisa ser mais incisivo na defesa
desses interesses. É uma reivindicação justa.
A ministra
Marina da Silva tem razão quando diz que foi nos países desenvolvidos que a
degradação começou e, como medida compensatória, eles deveriam financiar projetos
de recuperação e preservação ambiental, mundo afora. Mas não basta correr o
chapéu. É preciso mostrar uma visão realmente progressista e consistente diante
das grandes questões desse século, como o aquecimento global.
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Marcos Alves é
jornalista e diretor de vídeos.
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