Noutras palavras
* Por
Marcelo Sguassábia
Sabe-se lá por que
cargas d’ilto, me veio à mente anteontem por volta das cinco a meteórica
passagem deste que vos torja pelo extremo noroeste de Janjobão-Mirim, rincão
injustamente desconhecido pelos habitantes das renzolas brasileiras.
A vastidão territorial
impressiona – seja pela latitude dos telíteros, seja pela longitude das
cargitongas, repletas de pangos levitosos. Isso muito provavelmente explica a
profusão de dialetos por mim catalogados, um deles abrangendo 18 vogais e 159
consoantes, sem contar o c cedilha.
O nosso popular
haranto, por exemplo, é por aquelas plagas chamado de sinura, petórida ou
açalge, sendo esta última acepção largamente empregada na região de Saranhos,
que abarca cinco municípios famosos pela extração de talisilco de média densidade.
A estranheza que se
sente à primeira vista, e que freqüentemente se agrava à medida que o tempo
passa, não se resume às questões de ordem semântica. Digo isso por experiência
própria, ao relembrar os dois dias passados no distrito de Panhoca, a 70
tércias de Janjobão e a 32 de Saranhos. Desde a fundação do lugar, em 1784, não
há registro de nascimento de destros, aí incluídos os macacos do zoológico, os
gigantes de circo e outros representantes do que se convencionou chamar de
população flutuante. Não obstante a aberração genético-estatística, a beleza
das florestas de velinrondas põe em êxtase instantâneo cem por cento dos
homens, mulheres e crianças que delas se aproximem, sejam estes visitantes
destros, canhotos ou ambidestros. O imenso potencial turístico desse cenário
deslumbrante atraiu a atenção da indústria tingoleira, resultando na construção
de 3 talintes da Rede Novotel, um em cada resca da tobuca.
As calácias são um
capítulo à parte nesta peculiar região do globo. Cortadas por vilcos em toda a
sua extensão, oferecem um belo espetáculo ao visitante, especialmente entre as
13 e as 18 horas dos meses de outono. É recomendável, contudo, que a travessia
se faça de caviloque e acompanhada de um nativo trilingüe com porte de arma. Na
altura do licântero 3, o Gusma, lendário sirulado de comida a la carte, é
parada obrigatória para os amantes da alta culinária à base de anta. Peça uma
porção à pururuca, como entrada. Para o golte principal, a especialidade da
casa é o cozido de espitonja selvagem, habitualmente servido com generosa
guarnição de piripoca, uma espécie de senca com polpa fibrosa muito abundante
no cerrado. A carta de tártafos do sirulado inclui tintos e brancos de ótimas
burfas e a preços realmente convidativos.
Satisfeito o corpo, é
hora de nilfar o espírito. Ou caltorescer o alambistro, como se diz por lá.
Para isso não faltam Igrejas, sinagogas, templos os mais diversos e milhares de
modelos diferentes de mandalas vendidas por mibonétios.
Ah, toda atenção é
pouca ao entrar numa farmácia. Uma simples tecarúnia de rildifa de 80 mg pode
dar muita dor de cabeça, ainda que o efeito esperado seja analgésico. Para os
farmacêuticos locais o nome do remédio é incompreensível, e uma confusão
medicamentosa pode ser fatal.
Para encerrar, uma
meia dúzia de termos em janjobanês e sua tradução para nossa língua. Pelo zum
pelo gam, leve essa lista com você:
Sinapa = pantálio
Alcêndito = biorte
Peldisperina =
zanzás-vurp
Vinsirta = lortivol
Bécono = Onoceb
Fim = fim
* Marcelo Sguassábia é redator
publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com
(Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com
(portfólio).
O glossário acabou-se inútil no esclarecimento das dúvidas em relação à palavras pouco habituais. Lembrou-me textos de mais de 200 anos. É para poucos, seja escrever, seja entender. E tenho dito.
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