sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Monólogo de um amor além do tempo


* Por Alberto Cohen


Pega o teu jeito de gostar da vida
e vem tentar, de novo, resgatar-me
da solidão de nem saber que é festa
o baile do outro lado da calçada.
Dá-me o sorriso de cumplicidade
daquelas noites de feitiçaria
em que as sombras saltavam da parede
para o velho caderno de poesia.
Sei que já me explicaste, mas preciso
ouvir, mil vezes, que é predestinado
o nosso querer bem de tanto tempo,
o nosso olhar nos olhos, sem palavras,
sem pedidos inúteis de desculpa.
Vem, simplesmente, senta-te ao meu lado
e recosta a cabeça no meu ombro,
faz de conta que nem chegaste agora,
estavas no jardim a colher flores,
na cozinha passando um cafezinho,
dando nome às estrelas na varanda,
espalhando sorrisos pela casa.
Beija-me, assim, da forma que não muda
desde a primeira vez que nos beijamos.
É nosso beijo, aquele que inventamos
como senha de acesso aos nossos corpos,
que jamais se possuem, sempre se entregam
ao romance, ao desejo, à parceria.
Que nesse rito de acasalamento,
em que sou teu discípulo e teu mestre,
aconteça um milagre, um recomeço,
sejas cativa em meu mundo encantado
e eu seja livre em ti, que nem mereço.

* Poeta paraense


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