Aziago agosto
* Por
Emanuel Medeiros Vieira
NARRATIVA
(RELEMBRANÇA) ESCRITA ENQUANTO RELEIO FRANZ KAFKA – SANTO DE MINHA PROFUNDA
DEVOÇÃO
Tiro no coração –
Getúlio Vargas, 24 agosto de 1954; renúncia de Jânio Quadros – 25 de agosto de
1961; arremedo de Parlamentarismo, 1961, para que João Goulart (Jango) possa
assumir.
O Golpe de 1964 sendo
postergado: de 1954; de 1961 (um dia veio) – ou, mesmo de 1930?
Aziago agosto, longa
escravidão, elevador social e de serviço, a frase repetida: “Sabes com quem
estás falando?” (Sabemos.)
Vagas para especiais e
para idosos não são respeitadas; gorjeta para o guarda não multar, e muito
mais. Sujam praias, desmatam, jogam lixo nas ruas – “mas há muito coisa boa”,
contrapõe outra voz interior.
E o mundo continua
DESSACRALIZADO, além de uma idiotização coletiva (vide a TV aberta), do império
do tráfico, de um país mais violento que muitos que estão em guerras
declaradas.
Sim: e a banalização
do Mal – que ele nunca seja subestimado (pedia meu pai).
O tom solene é
dispensável, mas creio: é preciso seguir em frente e não ser vampirizado.
Corrupção,
patrimonialismo, desigualdade – limparemos os esgotos? Lavemos…
É preciso deixar
alguma esperança: seguro uma flor retorcida do cerrado.
(Acreditem: não, não
quero ser populista, demagógico.)
Aos 20 anos,
romanticamente, achava que isso tudo iria mudar. Aos 70…
“É preciso escrever
algo edificante”, reivindica uma voz interior.
Pergunto-me – como
Darcy Ribeiro indagava obsessivamente:
POR QUE ESTE PAÍS NÃO
DEU CERTO?
(Não, não falo de
conquistas internas, vitórias pessoais.)
Uma pichação: “Não
temo a opressão do governo, mas a inércia do meu povo.”
“Um pensamento: A
corrupção no Brasil é endêmica e está em processo de metástase”.
(Athayde Ribeiro
Costa, procurador que atua na Operação Lava-Jato).
Chegou-se- à
degradação sem termos alcançado à grandeza.
Dizia Millor
Fernandes: Não se fazem ruínas como antigamente…
(Salvador, 30 e 31 de
julho de 2015).
* Romancista, contista, novelista e
poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis –
ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos
domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre
outros.
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