terça-feira, 11 de agosto de 2015

Aziago agosto


* Por Emanuel Medeiros Vieira


NARRATIVA (RELEMBRANÇA) ESCRITA ENQUANTO RELEIO FRANZ KAFKA – SANTO DE MINHA PROFUNDA DEVOÇÃO

Tiro no coração – Getúlio Vargas, 24 agosto de 1954; renúncia de Jânio Quadros – 25 de agosto de 1961; arremedo de Parlamentarismo, 1961, para que João Goulart (Jango) possa assumir.

O Golpe de 1964 sendo postergado: de 1954; de 1961 (um dia veio) – ou, mesmo de 1930?

Aziago agosto, longa escravidão, elevador social e de serviço, a frase repetida: “Sabes com quem estás falando?” (Sabemos.)

Vagas para especiais e para idosos não são respeitadas; gorjeta para o guarda não multar, e muito mais. Sujam praias, desmatam, jogam lixo nas ruas – “mas há muito coisa boa”, contrapõe outra voz interior.

E o mundo continua DESSACRALIZADO, além de uma idiotização coletiva (vide a TV aberta), do império do tráfico, de um país mais violento que muitos que estão em guerras declaradas.

Sim: e a banalização do Mal – que ele nunca seja subestimado (pedia meu pai).

O tom solene é dispensável, mas creio: é preciso seguir em frente e não ser vampirizado.

Corrupção, patrimonialismo, desigualdade – limparemos os esgotos? Lavemos…

É preciso deixar alguma esperança: seguro uma flor retorcida do cerrado.

(Acreditem: não, não quero ser populista, demagógico.)

Aos 20 anos, romanticamente, achava que isso tudo iria mudar. Aos 70…

“É preciso escrever algo edificante”, reivindica uma voz interior.

Pergunto-me – como Darcy Ribeiro indagava obsessivamente:

POR QUE ESTE PAÍS NÃO DEU CERTO?

(Não, não falo de conquistas internas, vitórias pessoais.)

Uma pichação: “Não temo a opressão do governo, mas a inércia do meu povo.”

“Um pensamento: A corrupção no Brasil é endêmica e está em processo de metástase”.

(Athayde Ribeiro Costa, procurador que atua na Operação Lava-Jato).

Chegou-se- à degradação sem termos alcançado à grandeza.

Dizia Millor Fernandes: Não se fazem ruínas como antigamente…

(Salvador, 30 e 31 de julho de 2015).

* Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros. 



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