Sem nexo
* Por
Clóvis Campêlo
Gritei como um louco varrido, doido, doído, dorido,
colorido.
A noite era imensa, vazia, vadia.
Eu eu a queria como se quer uma coisa qualquer,
possível, acessível, temível.
A chuva caía e se encaixava como uma luva naquele cenário.
O asfalto molhado refletia no chão o neon, a lua
oval da Esso, a marca monarquista da McDonalds, os signos da república
democrátrica capitalista.
O sumo do consumo.
Era assim que a via.
Era assim que havia de ser.
Era assim.
Apenas uma mulher sensual, objeto do meu prazer.
Aquilo seria prova dos nove fora nada.
Chove chuva para apagar o fogo do meu desejo, meu
ensejo de possuí-la, de tê-la a qualquer preço.
Que todos se fodessem: o guarda Ambrósio, o pé
torcido dela, os transeuntes, a moral, a cultura e a civilização.
Naquele momento, eu era um bicho e queria sexo sem
nexo.
Recife, 2011
* Poeta, jornalista e radialista,
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