quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Desfazendo equívocos


A Literatura é atividade de múltiplos caminhos para os que, por vocação e/ou opção, decidem exercê-la plenamente. Apresenta (é verdade) relativamente poucos gêneros para o escritor exercitar sua criatividade e sua imaginação, escorado pelo máximo de informação que possa conseguir a propósito do que pretende escrever, a saber: poesia, crônica, conto, novela, romance (estes três com seus dois derivados, um tão antigo quanto o ato de redigir – no caso, a peça teatral – e o outro decorrente do avanço tecnológico, que é o roteiro de cinema, ambos, todavia, com a finalidade de serem verbalizados por atores), além de ensaio e da crítica literária. Isso não quer dizer que não se possam desenvolver novidades nesse aspecto. Surgem, volta e meia, por exemplo, subgêneros, posto que raros. Mas nada impede que se criem novos gêneros literários, hoje inexistentes, desde que alguém consiga criá-los.

Tentarei ser mais claro e, sobretudo, desfazer alguns equívocos, bastante disseminados, a propósito de Literatura.. Caso eu tenha aptidão para a poesia, nada me impede de escrever, também, contos, novelas, romances etc., desde que tenha essa capacidade e conte com preparo suficiente para tal. Posso até ser conhecido como “poeta”. Mas isso não quer dizer que eu deva, necessariamente, me dedicar “exclusivamente” a esse gênero. Caso tenha aptidão para ser “também” cronista, contista, romancista etc. posso, caso opte atuar nesses campos, fazê-lo e com sucesso, se for bom literato. Por que não?!

Esse preâmbulo destina-se, principalmente, a esclarecer que o rótulo “escritor de ficção científica” a quem se disponha a atuar nessa área, não passa apenas disso: de mera designação genérica, inexpecífica, nem sempre exata ou adequada. Caso alguém que atue nessa área se disponha a escrever poesias, crônicas, ensaios etc., nada o impede (a não ser o fato de ter ou não aptidão para esses gêneros) de fazê-lo. Não existe, pois, o “escritor de ficção científica”, com a idéia de exclusividade. Existe, apenas, o “escritor”, com a prerrogativa de escolher qualquer dos caminhos que a Literatura lhe proporcione, por critérios todos seus.

É certo que alguns se especializam em determinados gêneros e não se dispõem a se aventurar em nenhum outro. Esta, porém, é escolha livre, soberana e exclusivamente pessoal. Há, até, os que decidem seguir uma única linha temática, como por exemplo, as aventuras intergalácticas, em seus enredos. Nada impede que ajam assim. Ninguém, no entanto, lhes impõe essa exclusividade (e, ademais, nenhuma outra). É escolha, reitero, apenas e exclusivamente pessoal. Júlio Verne, por exemplo, não escreveu “só” histórias de ficção científica, embora seus livros mais famosos sejam desse tipo. O mesmo vale para H. G. Wells, George Orwell e Arthur C. Clarcke, entre tantos outros. Foram escritores ecléticos, versáteis e, convenhamos, geniais.

Muitos estranham quando relaciono, entre autores que tenham produzido obras de ficção científica, o nome de Aldous Huxley. Não deveriam. É verdade que a maior parte de seus romances não segue essa linha. Aliás, ele escreveu um pouco de tudo: ensaios, crônicas, poesia (até editou a revista “Oxford Poetry” dedicada a esse gênero), literatura de viagem e até roteiros de cinema. A primeira vez que tomei contato com sua literatura, há 53 anos, foi com a leitura do seu romance “Contraponto”. Encantei-me com sua maneira de escrever (pudera!). Li, na sequência, “Sem olhos em Gaza”, “Também o cisne morre”, “O tempo deve parar” e “A ilha”, com a mesma empolgação. Na época, e nos anos posteriores, sequer me passou pela cabeça que ele escrevesse, também, ficção científica. Na oportunidade, eu ainda não havia lido “Admirável mundo novo”. Aliás, na ocasião, eu até detestava o gênero. Na verdade, estava é mal informado. Desconhecia, por exemplo, a obra de um H. G. Wells, de um Isaac Asimov, de um Arthur C. Clarcke e até mesmo de Júlio Verne. Foi só após a leitura desses “gênios”, e de alguns outros, que mudei radicalmente de opinião a propósito da ficção científica.

“Admirável mundo novo” é um dos livros mais marcantes, chocantes e impactantes que já li. É tão complexo, que para comentá-lo, minimamente bem (o que pretendo fazer), precisarei (provavelmente) de um bom par de dias (quiçá de semanas), tamanha sua complexidade. E não sou o único a achar isso. Li inúmeros ensaios a propósito e, em todos, seus autores manifestam a mesmíssima perplexidade que tenho em relação a essa obra-prima. Aliás, o próprio autor chegou a essa conclusão. Tanto que escreveu, e publicou, um livro de ensaios, intitulado “Retorno ao Admirável Mundo Novo”, em que busca justificar o insólito enredo que criou, demonstrando que muitas das “profecias” do seu romance estavam se concretizando, em decorrência do “progresso” científico no que diz respeito à manipulação genética e, sobretudo, da vontade de seres humanos. Recomendo, caríssimo leitor, que leia as duas obras, para acompanhar o raciocínio da análise que pretendo fazer. Aguarde.

Boa leitura.

O Editor

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