sábado, 11 de abril de 2009

Gotas de chuva




* Ramon Ribeiro de Souza

Hoje eu tomei um banho de chuva. Há muito tempo não fazia isso. É-me intrigante esse acontecimento, pois o banho só ocorreu graças a um erro de comunicação. Minha colega, que diariamente me leva de carro para casa, retirou-se da aula sem me avisar. Quando se lembrou, já estava um pouco distante, mas mesmo assim resolveu telefonar para o celular de outra colega minha que estava presente em sala, e por meio desta fiquei sabendo onde encontrá-la: lá perto da parada do circular – ônibus gratuito que trafega dentro do campus. A chuva já caia quando sai correndo atrás do carro da amiga. Fui em direção da parada mais próxima. Procurei o carro dela, mas não o encontrei. Lembrei-me que dentro do campus há outras paradas, e provavelmente eu estava na errada. Olhando para a rua, percebi que, lá longe, vinha o circular. Não hesitei em pegá-lo. Desci na última estação, e caminhei sorridente os dois quilômetros e meio que restavam para chegar ao lar. Bem, deixemos de lado as explicações de como eu peguei chuva, uma vez que o mais importante foi que eu aproveitei a chuva.

Ao entrar na minha residência, fui direto me enxugar, para depois jantar. Fiz uma ceia bem leve, não queria desperdiçar alimento. Após a refeição, resolvi ler um pouco sobre a biografia do ilustre Nelson Rodrigues. Quando terminei de ler a biografia do nobre escritor, apreciei um pequeno conto seu, “O Delicado”, o qual me causou um grande impacto. Graças a isso, estou escrevendo.

É impressionante o quanto esse nordestino viveu. Fico até inibido em descrever alguns fatos marcantes de sua vida nesse singelo texto. Dentre as coisas que aprendi sobre o escritor, uma chamou minha atenção: sua depressão. Desde menino ele sempre foi assim, abatido; triste; angustiado. Quando digo que isso mexeu comigo, é porque, lembrou-me que semanas atrás, lendo uma crônica em sala de aula, choquei-me com uma frase que dizia que os melhores livros foram escritos por autores em estado de melancolia. Discordei na hora. Hoje percebo que é verdade. Escrevo porque estou triste, angustiado. Mas não quero, com isso, dizer que o meu texto é excelente, quero apenas dizer, que por estar atormentado, veio-me o estro para escrever.

Mas voltando a Nelson Rodrigues. Ah! Como viveu... Daria tudo para experimentar o que ele aproveitou até os vinte. Que maravilha de aprendizado! Talvez me exprimindo dessa forma, o leitor ache que a vida do dramaturgo foi uma facilidade, que não teve nenhum obstáculo. Mas não foi assim. Pelo contrário, a vida dele foi regada por suor. Muito trabalho alicerçado por talento... Muito talento. Admiro-o, pois, ao olhar meu passado, vejo o quanto deixei de viver. Procuro algo em minha vida que seria digno de um romance. Um poema. Uma estrofe. Até mesmo um verso. Mas não encontro nada. Infelizmente, tenho que concordar com alguns dos meus parentes que dizem que sou ocioso. Sou apático. Fui apático, a vida toda. Nunca produzi algo.

Na vida temos que tomar muitas decisões. Mas comigo é diferente. Eu evito ter que decidir algo. Sempre fui irresoluto. Minha apatia, mais minha indecisão, acrescentada de uma grande dose de medo de sofrer críticas, eis ai o elixir da minha existência. Para ter uma idéia, levei vinte anos para decidir morrer.

É esquisito dizer isso, mas saibam que estas linhas finais, do presente texto, são minhas últimas palavras antes que todo o sangue do meu corpo saia como gotas de chuva pelo meu pulso agora cortado.

Com esta primeira e última criação, transmito o meu imenso desejo de dar algum sentido à minha vida.

*Estudante de Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Um comentário:

  1. Ramon, o seu texto ficou interessante. Ao lê-lo fui enxergando o meu ocioso e atormentado filho, que diz que pensa em se suicidar pelo menos uma vez ao dia. Vou enviar a ele o seu texto.

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