sexta-feira, 24 de abril de 2009




O Urupês e a terra da gente

* Por Juliano Luís Pereira Sanches

Monteiro Lobato ficou indignado com a destruição da natureza, principalmente com as queimadas e com os problemas de saneamento básico que existiram, e que ainda assombram o Brasil. Para explicar melhor esta prosa, cabe convidar Jeca Tatu. Estes dois brasileiros descobriram coisas mágicas, porque perceberam que o humor e a crítica, às vezes, são as chaves ou as soluções para os problemas, mesmo quando todos os cidadãos parecem estar contra a opinião deles. É através do desafio aos que se opõem aos objetivos deles, que eles conseguem mobilizar a sociedade em função da reflexão.

Com cachimbo, chapéu de palha, uma velha botina, Jeca pede, para aos que queiram entendê-lo, que prestem atenção aos seus causos. Em plena era da Internet, Jeca parece confessar que está triste com a pobreza e com o preconceito de alguns brasileiros em relação à cultura cabocla, porém brinca, e, de alguma forma, mostra que tem uma resposta, quando perguntado a ele sobre isto.

Ele revela que sua vida é formada por valores e por razões que, muitas vezes, são desconhecidos, e que estes trazem felicidade, pois permitem, por exemplo, ter alegria não em poder praticar pesca virtual, mas sim em ter acesso ao ambiente natural, aquele pelo qual os peixes e as plantas disputam a apoteose, numa obra tão bela quanto o Sítio do Picapau Amarelo.

A simplicidade de Jeca não pode ser confundida com ingenuidade. Assim como Jeca, outras personagens de Monteiro parecem utilizar estórias simples não como apenas um jeito de recriar uma fantasia, mas como um protesto não somente projetado no que se entende por utopia, mas também como algo que ultrapassa os limites da ficção e que, por isso, passa a ser tão parecido com a realidade quanto à igualdade de cidadania, e que esconde uma manifestação de certos homens e mulheres contra a opressão da sociedade, o desrespeito e às dificuldades de sobrevivência – marcadas pelos sofrimentos e tristezas daqueles pelos quais a pobreza fez reféns.

O Jeca, apelidado de Urupês, parece querer sair das páginas dos contos de Monteiro não apenas para contar causos, mas para mostrar que não é o consumo nem a cultura industrializada que o agradam, mas sim a sensação de proteger e de participar do ambiente da natureza, lugar onde o homem da roça consegue tirar os alimentos que sustentam sua família, espaço em que é possível juntar-se com outras pessoas e rezar para agradecer a Deus pelo pão dado a cada dia de vida a cada um dos irmãos, aqueles que pela terra vivem e para ela voltam, algum dia.

* Jornalista, folclorista e poeta de Campinas. Foi repórter de assuntos gerais nos programas Sexta Cultural, Fractal, Jornal da Educativa e Bom Dia Campinas, daRádio Educativa FM 101.9 (www.campinas.sp.gov.br). Atualmente, é apresentador, repórter e produtor do programa de jornalismo educativo Ponto & Vírgula da Rádio Educativa em parceria com a Secretaria de Educação de Campinas. Colaborador do Portal Sorocult (www.sorocult.com), e colunista do Jornalzen (www.jornalzen.com.br), de Campinas.


Um comentário:

  1. Sinto desconforto em ler textos escritos no chamado "Português errado". É preciso ser fiel a fala do personagem, mas essa fidelidade, embora necessária e autêntica, é-me desagradável de ler. Tive e tenho muito contato com a linguagem do povo. Ouvir, é até bom, mas ler, não é para mim.

    Destaco: "A simplicidade de Jeca não pode ser confundida com ingenuidade." Assim, como falar errado longe está de ser burrice.

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