quarta-feira, 29 de abril de 2009




Em crises

* Por Cacá Mendes

- O senhor é um grandíssimo...
- O senhor é mais ainda...
- Vossa excelência me respeite..
- Não, vossa excelência é que deve me respeitar...
- E aqueles capangas de vossa excelência...?
Bom, eu paro por aqui, porque se fosse o dizer do velho Joaquim Maria Machado de Assis, eu digo, digo, escrevo, esta semana não foi nada fácil, e as pessoas andam nos mesmos dos irritados todos. Nivelado neste por mim, à força, nem o queria assim. Testando minha energia sedutora, logo na segunda, em primeira hora da manhã, da outra semana, liguei para um amigo e o danado estava com duas pedras nas mãos... Não as lançou em mim, mas vergonhosamente, ameaçou-me com elas.
Outra, reencontrei um grande amor de quando jovem, na internet, ora, e ela me disse da sua desilusão com a vida. Amou perdidamente um homem, e durante vinte ou mais anos o filho de uma égua a traiu com aquela que se dizia sua melhor amiga... E tudo se acabou, justíssimo, nesta semana. Agora, ela, coitada, pra fazer ciúmes ao extinto, diz-lhe em fé viva, que o último filho deles (porque moram perto da fronteira Brasil com Paraguai) tem a cara do presidente do Paraguai, o Sr Fernando Lugo, ora! O grandessíssimo extinto, o tal do traíra, está nem aí. Achou mesmo foi curioso e sentiu, segundo a própria, até certa lisonja assim:
- Chifres católicos, e de bispo, são feitos para freqüentar igrejas, nunca reparou na altura das portas e tetos delas? Rá, rá, rá.

E o escárnio, em pessoa, saiu da piada assim como entrou, vencedor. Eu sei, hoje serei a própria crise, em justo realismo da minha vocação para o rasteiro, o miúdo, em pequenos porcos dessa vida em delicadeza e medidas colocadas dentro dos agoras, para os fatos se consumarem nos plenos do mundo.
E em memória minha, ainda meio curto das calças, me dei com Henry Miller, por via de um dos seus personagens que num ó diria: “o lance é criar patos, patos aqui e patos acolá”. E falando com um amigo outro dia, um grande gabaritado douto de academia (e o chamo de íntimo, mais por minha ousadia), me aconselhou que patos em tempos de crise seria fiasco, e que o melhor seria criar peixes. São mais limpos e não possuem aquele bico, e se por acaso vier o faltar de trato com eles, não gritam, não amolam. Logo, na iminência da fome, peixe se vira, está lá debaixo d’água mesmo, come barro e outros dejetos dessa natureza e é um bicho silencioso. Eu dei ouvidos a ele, e com razão, esse meu amigo entende mesmo é de literatura, mas no caso, dizíamos do ato de escrever, e nisso, num cochilo nosso, misturamos os assuntos e os tais dos peixes entraram no lugar dos patos, logo eu sei, queria mesmo era me aconselhar a ser mais ameno nas tragédias cotidianas. Por que afinal, a crise é com os outros e não é conosco, arre!
Aí, eu e ele com o versando, porque nascemos com o defeito da poesia na alma e na língua, discutimos:
- Você é foda...
- Não, você é mais, mais..
- Vê se me respeite, cara.
- O cacete, você é que é foda.
- Você e seus cacoetes capangas, que vivem a manchar a língua nas páginas...
- Alto lá, meu descomandante!
- Alto, tu! Acabas de cair fora do meu respeito, e quebrar a fuça, porque daqui já me sou um penhasco a ti.
Rá,rá, rá, rá. E nisso, toca o celular do amigo FODÃO e um jornalista lá do outro lado da linha, covardemente (me senti dentro):
- Vai pro inferno com esse negócio de blog, seu viado! !! Não me mande mais essas porras de spans!
No dito do assim, desligou secamente na cara do meu afável, digníssimo e afetuoso, dileto e mais completo amigo. Ploft.

* Jornalista – blog: www.cronicaseg.blogspot.com

3 comentários:

  1. Cacá

    Adorei tua crônica. Essa de chifre ter religião é demais. Eu já tive chifre de umbanda e de bruxa. De bispo não conhecia...Este humor refinado está demais.
    Beijos
    Risomar

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  2. Muito bom! Humor refinado e espírito crítico dos mais afiados. Texto de mestre. Parabéns.

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  3. Risomar, Daniel, todos... muito obrigado meus queridos por erstímulo tão grande!Abraços

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