Reflexão e olhar crítico
* Por
Evelyne Furtado
Encontrei o texto
abaixo escrito há dez anos e me deparei com uma certa dose de ingenuidade. Mas
me surpreendi pois já havia uma angústia frente a pressão sofrida por quem
nadava contra a maré. Escrevi e postei antes de viver a experiência do debate
violento nas redes sociais e antes de Bauman ser citado pelos seus inúmeros
leitores nas próprias redes. Hoje falaria nele e não de Nietzsche. Ou em Zizec.
Sei lá, citaria o filósofo da vez. O que importa é que a tentação de entrar na
onda continua grande para a maioria. Mas continuo crítica e reflexiva, apesar
das minhas simpatias por um ou outro com quem me identifico. Hoje a indignação
aumentou consideravelmente e busco apoio na psicanálise para entender tais
fenômenos. E sigo perguntando:
Você pensa ou age como
boi em manada?
Reflito se pensamos
por nós ou se olhamos a vida pelas lentes de outros. Na nossa sociedade, a
grande maioria age como boi em manada.
Falta o olhar crítico
e se alguém tem essa visão recebe rótulos depreciativos ou é excluído. A
independência de pensamento (fundada em valores éticos e em conhecimentos
adquiridos, aliados à experiência) é peça raríssima.
Notem-se os casos dos
seguidores de filósofos da moda, de escritores e até de celebridades. As
citações tomam o lugar muitas vezes de opiniões pessoais, com alusão ou não ao
autor da idéia. Isso quando a referência é alguém de valor intelectual, pois o
mais comum é acompanhar celebridades.
Ultimamente Nietzsche
tornou-se figurinha fácil, pois é citado com excessiva freqüência em
discussões.
Conheço quase nada da
vasta obra de Nietzsche, mas o pouco que li foi suficiente para perceber sua
genialidade. Porém, também, vislumbrei desesperança naquela alma angustiada.
Creio que reside aí
importância do distanciamento crítico: saber o que nos serve.
Mas deixemos a
filosofia e tratemos de outros aspectos sobre o tema em pauta, uma vez que
sinto vontade de falar sobre como somos olhados com estranheza ou desprezo
quando discordamos de uma corrente política, tida como a mais correta.
Pergunto-me quem é o
dono da razão, para determinar o que é mais correto nessa situação?
Convém ressaltar que
esse olhar estreito e opressivo não é um mal dos dias que vivemos. Sempre se
reprimiu aquele que pensa diferente e a história nos mostra isso.
Quantas idéias
originais, sensatas e brilhantes foram caladas por destoarem da visão
predominante na época?
E chamo a atenção para
um detalhe: intelectuais muitas vezes aderem a alguma corrente, seguindo a
boiada e patrulhando a quem pensa diferente.
Sou contrária a
qualquer padrão imposto seja este de qualquer natureza. E acredito que o mais
importante é pensarmos por nós mesmos ainda que incomode.
Hoje, sei que nem
sempre é possível insurgir-me, todavia me reservo o direito de ter meus
pensamentos e valores, respeitando o direito do outro.
Claro que não dá para
ficar empunhando bandeiras o tempo todo, gosto de manter certa leveza na vida,
contudo não abro mão de pensar.
Reflexão e um olhar
crítico são importantes. Questionar, comparar argumentações e valorizar a
experiência de vida são fatores que formam a base de nossa individualidade.
Cultuemo-los, pois!
*
Poetisa e cronista de Natal/RN
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