segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O tempo é ouro


* Por Talis Andrade


O suado trabalho
paguem agora
paguem na hora
Salário todo mês
estipulado em acordo
coletivo de trabalho
sacanagem de patrão

Salário todo mês
ser(vil) escamoteação
Você trabalha todos os dias
para receber os pês
da escravidão

O pão mofado
o amargo pão

O pau no lombo
O lombo curvado
da sujeição

O pano madapolão
veste o corpo em vida
vestirá o corpo defunto
estirado no caixão

Fosse ganhar
como diarista
Fosse ganhar
como horista
você saberia
minuto a minuto
você saberia
segundo a segundo
quanto custa o suor
do rosto
Você saberia
a valia
do corpo
Você saberia
o tempo
é ouro
Você não ficaria
a fazer planos
para daqui
a trinta dias
Planos que adia
a cada trinta dias

Se o tempo é ouro
o empregado aprenda
a cronometrar o tempo
Se o tempo é ouro
muito mais correto
seja pesado
na balança de precisão
que o patrão usa
nos negócios
escusos
Se o tempo de uns
é mais precioso
que o de outros
sinal o tempo
tem uma cotação
na bolsa de valores

O tempo é ouro
Eis porque o patrão
tanto teme
as horas paradas
dessuadas
horas
Eis porque o patrão
aproveita o tempo
em festas
constantes férias
O tempo voa
encurtando nossa passagem
pela terra


(Do livro “Romance do Emparedado”, Editora Livro Rápido – Olinda/PE).


* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).
  

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