terça-feira, 25 de agosto de 2015

Breve crônica sobre o amor


* Por Evelyne Furtado
  

O poeta Ferreira Goulart, em depoimento no delicioso documentário sobre Vinícius de Morais, de Miguel Faria Júnior, diz que a vida tem que ser inventada para ter sentido e  que o nosso poetinha deu definição à sua (vida) amando. Concordo, com ambos. Alguns de nós temos que encontrar razões para dar sabor à nossa passagem por aqui.
 
Há os que elegem o poder ou o dinheiro. Outros o trabalho, a família ou uma religião. Há, ainda, os se apegam a uma ideologia, um vício ou até um time de futebol para se motivar a viver.

Acredito que a fé em Deus, a família e o trabalho são belos motivos. O sexo e outros prazeres são agentes motivadores, também, mas o amor... Ah, o amor! O amor tem um poder imensurável e veste de lirismo a árida jornada do homem no planeta.

Cultivo meus valores e aposto no amor, assim como aposto na. fé em Deus. Elejo-os como alicerces. Creio no amor filial, materno e paterno, fraterno, universal e romântico.

Todavia, peço licença ao leitor para tratar aqui do amor romântico. Esse sentimento cantado em verso e prosa há milênios. O Cântico dos Cânticos de Salomão, no Antigo Testamento, é uma belíssima elegia ao amor erótico e desmente os defensores da tese de que ele, o amor romântico, é novidade entre nós. Na verdade, o sentimento sempre existiu, apenas era reprimido por outros valores, mas esse é assunto para outro texto.

Segundo Freud, somos movidos por dois impulsos: Eros, que representa vida, e Tânatos, que simboliza a morte, ou a inexistência do prazer de viver. Quando amamos e somos amados vivemos plenamente e Eros nos conduz; no entanto, a ausência do objeto amado nos rouba a alegria de viver e, nesse momento, Tânatos é a força que atua.

Shakespeare, em Os Dois Cavalheiros de Verona, comparou a separação da amada à morte, como vemos nesses lindos versos:

“Morrer é ser banido de mim próprio; e eu sou Silvia.
Estar de Silvia banido é estar banido de mim mesmo. Banimento mortal!
Que luz é luz, se Silvia não foi vista?
Que alegria é alegria é alegria, se Silvia estiver longe?”

O amor é luz, sim. E sou testemunha de que a visão do ser amado atua como um raio de sol em meio à neblina e chega ao coração, iluminando o rosto, aquecendo a pele e fazendo festa na alma. Quem ama ou amou uma vez na vida conhece essa sensação. Encontros de amor são das mais belas celebrações à vida.

Nesse mundo, cada dia mais pragmático, consumista e globalizado, ser romântica é ser anacrônica, porém se tenho que “inventar” um motivo para viver, invento o amor. Melhor, eu vivo o amor e recebo suas manifestações como dádivas divinas.

Em tempos de violência, corrupção, desrespeito, mentira e outras mazelas, o amor de verdade é salvação para as dores que afligem corações e almas.

E para concluir essa breve crônica sobre o amor, volto a Shakespeare, em versos extraídos do clássico Romeu e Julieta, que definem o tema e compensam o leitor pela leitura desse texto modesto, porém sincero.  

“O amor é fumaça formada pelos vapores dos suspiros.
Purificado, é um fogo chispeante nos olhos dos amantes.
Contrariado, um mar alimentado pelas lágrimas dos amantes.
Que mais, ainda? Loucura prudentíssima,
fel que nos abafa, doçura que nos salva."


* Poetisa e cronista em Natal/RN

Um comentário:

  1. Nós e o amor romântico com as surras que ele nos dá. Ainda assim, preferimos viver apanhados, do que sem amar. É um pouco como o moço que diz que anda todo arranhado mas não larga a sua gata.

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