quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A complexa e variada cultura catarinense



A literatura é um assunto sério para um país, pois é afinal de contas o seu rosto”. Quem afirmou isso foi o poeta francês Louis Aragon. Não são os historiadores, filósofos, sociólogos etc.etc.etc. que definem e registram com fidelidade como é determinado povo: o que pensa, como se comporta, como se veste, habita, fala e se diverte, entre tantas outras coisas. São seus escritores. Isso reforça minha tese, exposta em comentário anterior, de que, ao falar de Literatura brasileira temos, para sermos exatos, que nos referir no plural. Cada região ou Estado do País têm suas peculiaridades. Às vezes, até mesmo cada cidade. E seus homens de letras as expressam, em suas obras, de formas diferentes, mesmo que se afigurem idênticas, se não iguais. Não são. São, apenas, “parecidas”. Mas são diferentes. Temos que falar em “Literaturas Brasileiras”. Ou seja, o Brasil não tem um único “rosto”, como tantos outros países menores e menos populosos (e menos complexos) têm. Tem, no mínimo, 28: seus 27 Estados e mais o Distrito Federal. Exagero? Longe disso.

Por isso, ao tratar de Literatura, especificamente da praticada, por exemplo, em Santa Catarina – que elegi, mas não aleatoriamente, como foco para esta série de comentários – (ou que se pratique em qualquer outro Estado), temos, antes e acima de tudo, que conhecer seu agente (que, em nosso caso particular é o escritor catarinense). Precisamos saber suas origens, seus costumes e suas tradições. Saber como se deu sua formação. Detectar seus gostos e desgostos, seus modos de ser e de proceder etc. etc.etc. Sem isso, não entenderemos (não, pelo menos, integralmente, em profundidade) a importância dos temas que abordam.

George Sand (pseudônimo de Amandine Aurore Lucile Dupin, baronesa de Dudevant, aclamada romancista e memorialista francesa do século XIX, considerada a maior escritora da França e uma das precursoras do feminismo) escreveu, em certa ocasião: “As canções, os relatos, os contos populares, pintam em poucas palavras o que a literatura se limita a amplificar e a disfarçar”. E estes são circunscritos a determinadas áreas. Tais manifestações de Santa Catarina não são as mesmas de São Paulo, de Minas Gerais, do Acre, de Roraima etc. É nessas fontes que os escritores bebem. Abrindo um parêntese, informo, para quem não sabe ou já se esqueceu, que George Sand foi a grande paixão do compositor polonês Frederic Chopin.

O escritor português, Ramalho Ortigão, deixou esse conceito ainda mais explícito ao escrever: “As literaturas são os registros condensados do pensamento público. Os grandes livros não se produzem senão quando as grandes ideias agitam o mundo, quando os povos praticam os grandes feitos, quando os poetas recebem da sociedade as grandes comoções”. É isso. Poderia estender ainda mais essa constatação, transcrevendo o que o poeta, ator, escritor, dramaturgo, roteirista e diretor de teatro francês Antonin Artaud, escreveu: “Sendo a literatura o produto variável e flutuante de cada sociedade, está por isso sujeita às mudanças sociais e às revoluções do espírito humano, cujas evoluções segue, refletindo as ideias e paixões que agitam os homens, e quinhoando das suas preocupações”.

A cultura de Santa Catarina é rica e variada. Reflete, acima de tudo, as diversas etnias presentes no Estado. É muito forte ali, por exemplo, a influência alemã. Mas também são consideráveis a portuguesa, notadamente dos imigrantes procedentes dos Açores, a suíça, a eslava, além dos autóctones, dos indígenas que lá viviam antes dos vários fluxos imigratórios, Grupos folclóricos mantêm viva essa herança trazida da Europa, mesclada com experiências locais. Essa influência dos imigrantes se faz presente não apenas no folclore, mas também em todas as outras artes (entre as quais, claro, a Literatura) e no artesanato, na linguagem, na gastronomia e nas festas típicas tradicionais, que atraem mais de um milhão de visitantes anualmente a Santa Catarina, principalmente a Oktoberfest de Blumenau, a segunda maior festa da cerveja do mundo, perdendo, apenas, para a de Munique, na Alemanha.

O patrimônio histórico catarinense, por sua vez, também reflete as particularidades de cada região. São os casos do casario colonial português, característico do litoral e a arquitetura alemã, presente, sobretudo, no Vale do Itajaí. Na arte contemporânea, os artistas de Santa Catarina buscam, nos valores locais, nessa mescla de várias e heterogêneas influências, o elemento universal, o que enseja a criação de obras de imensa qualidade artística. Isso proporciona, com justiça, reconhecimento não somente nacional, mas  internacional aos pintores, músicos, dançarinos, coreógrafos, cineastas, atores, dramaturgos e... escritores catarinenses. É para estes últimos que voltarei, nos próximos dias, meu foco, posto que resumidamente, como a natureza deste espaço requer.

Boa leitura.

O Editor.

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Um comentário:

  1. Vamos passear por Santa Catarina. Tenho uma amiga virtual há 13 anos, que mora em Orleans - SC, e que sempre tem me mostrado detalhes da cultura de lá. Ela descendente de imigrantes italianos.

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