domingo, 4 de maio de 2014

Tudo por uma boa pegada...


* Por Aliene Coutinho


Elas eram amigas há anos, sabiam tudo uma da outra, estavam sempre juntas, até que Sara conheceu o Pedro. Dani não entendeu nada. Eles não combinavam. Ela gostava de filme de arte, ele de suspense policial, ela de lugares requintados, ele de botecos, o mais “pé sujo” que houvesse. Ela chique, corpinho em forma, ele gordo, largadão. Não deu outra. Chamou a amiga no canto e tentou abrir os olhos dela: não vai dar certo. Sara, calmamente, disse que não se preocupava com o futuro e que a amiga estava era com ciúmes. Brigaram pela primeira vez.

Foram meses sem se encontrar, nem por acaso. Afinal, Sara não freqüentava mais os mesmos lugares, vivia a tiracolo do brutamontes, que ainda por cima lutava jiu-jtsu, e  muitas vezes saía do treino com o quimono todo molhado de suor, sem tomar banho, para pegar a amiga no trabalho. Dani não conseguia engolir essa história, ninguém muda tanto em tão pouco tempo.
  
Tentou esquecer o casal. Começou a sair com outras pessoas, viajou, e sempre que chegava em casa, olhava a secretária eletrônica na esperança de ver um recado da amiga, de preferência, dizendo que aquele romance havia  acabado e que ela tinha mesmo razão em dizer que não ia dar certo. Em vão.

Curiosa como toda mulher e morta de saudades da amiga, Dani resolveu investigar. Começou a passar – sem querer – na frente do trabalho de Sara, na rua onde ela morava, até se arriscou a ir a alguns daqueles bares barulhentos, que só servem lingüiça calabresa frita e chopp quente. Numa das investidas, os viu. Pareciam felizes. Sara sorria abraçada com Pedro. Estava diferente também por fora. Usava jeans, camiseta, o cabelo estava sem escova e mesmo de longe deu para ver que estava sem maquiagem.

Para quem não saia de casa sem rímel e batom, Dani achou aquilo uma extravagância. Pior foi quando em certo momento, Sara, a elegante Sara, assoviou chamando o garçom e os dois caíram na gargalhada. Era quase impossível de acreditar que se tratava da mesma pessoa, uma amiga  tão íntima, se mostrar tão estranha.

Quase um ano depois, e sem notícias da amiga, Dani saiu de casa numa tarde fria de domingo para tomar um chá. Ficara sabendo da inauguração de uma nova creperia e foi até lá conhecer e matar um pouco o tédio. Ao entrar deu de cara com Sara. Estava sozinha, ainda sem maquiagem, mas vestida discretamente com um simples e belo vestido. Ela se aproximou, cumprimentou a amiga que se levantou, a abraçou e pediu para que sentasse com ela.

Estavam meio sem jeito. Trocaram as primeiras palavras como simples conhecidas, mas em poucas horas já trocavam lembranças do que viveram, das viagens que fizeram juntas, e dos namorados... aí não deu para resistir. Dani se encheu de coragem e perguntou por Pedro. Sara encheu os olhos d’água e contou que o romance havia acabado há quase três meses, lamentou o final e disse que Pedro não aceitava as diferenças entre eles, e que por mais que ela tivesse tentado, nunca conseguiu viver no mundo dele.

Dani consolou a amiga e com mais coragem ainda perguntou o que aquele homem tinha de tão especial para fazê-la mudar tanto, ou pelo menos fazer que ela tentasse mudar. Em poucas palavras, Sara resumiu e explicou o que qualquer pessoa entende: “Ele tinha uma “pegada” que eu jamais vou esquecer em toda vida”. Não precisava dizer mais nada. E lá se foram de braços dados combinando o próximo encontro.


* Jornalista e professora de Telejornalismo

Nenhum comentário:

Postar um comentário