sexta-feira, 23 de maio de 2014

Nem tudo está perdido

* Por Rodrigo Ramazzini

Na balada. Quando começou a tocar uma música do Jorge e Mateus, Danilo entendeu que era a hora de se aproximar da morena de cabelos longos, unhas pintadas de roxo, saia e blusa preta, que estava escorada na copa.

- Oi!
- Oi...
- Eu estava ali te olhando e pensei...
- Deixa-me adivinhar. Pensou: vou ali xavecar aquela mulher para ver se arrumo uma para hoje. É isso?
- Não! Não... Não é isso...
- Então: que vontade de beijar aquela mulher. Vou ali tentar enrolar ela com um xaveco furado. Isso?
- Não... Não... É que...
- Foi além? Ô, cabecinha rápida e safadinha, hein?
- Não! Não!
- Já queres me levar para a cama no primeiro encontro?
- Olha... Eu acho que tu estás confundindo as coisas?
- Confundindo? Nããããão! É isso que todos vocês homens fazem quando se aproximam da gente em festas. Não é?
- Eu sou diferente...
- Todos dizem que são diferentes. Mas a bem da verdade, são todos iguais. Chegam perto da gente, jogam uma conversa furada, como se isso fosse mudar a nossa concepção e decisão. Saiba que, nós mulheres é que escolhemos vocês. Quando a gente visualiza um homem, o veredito forma-se quase que instantaneamente...
- Interessante este ponto de vista feminino. Nunca tinha me dado conta disso...
- Estou dizendo... Vocês homens... Não tem recuperação!
- Minha intuição não falha...
- Como assim?
- Eu olhei pra ti e pensei: aquela mulher ali tem cara de ser muito inteligente e saber de tudo sobre o gênero feminino... Além, claro, de ser linda!
- O que tem isso? Depois de tudo que te falei tu achas que vou cair nesse papinho furado?
- Não! Não!
- Então, o que é?
- Estás vendo aquela loira ali? Bonitona de saia curtinha?
- Sei... O que tem?
- Tu podias intermediar o meu contato com ela, né?
- Ah tá! Estás me achando com cara de cupido agora?
- Sabe como é... Quando outra mulher faz essa intermediação... Enche o cara de adjetivos e tal... A coisa rola mais fácil, não?
- Digamos que ajuda...
- Então, vai dizer que não gostaste de mim, hein? Não vais estar nem mentindo...
- É... Tu não és de jogar fora mesmo... Bonitinho, arrumadinho, cheiroso...
- Agrado geral, não?
- É...
- Faz essa mão?
- Mas eu não sei nem o teu nome. Qual é?
- Ô! Que indelicadeza a minha. Não me apresentei: Rômulo, prazer!
- Sabrina...
- Encantado... E então, Sabrina?
- Tens certeza que tu queres aquela loira? Porque pelo amor de Deus! Ela é bem gordinha e cheia de celulites. Dá para ver daqui...
- É...
- E a cara... Parece um cavalo! Há! Há! Há!
- Há! Há! Há! Não fala assim...
- Sinceramente, eu acho que tu arrumas coisa melhor esta noite...
- Será?
- Eu acho...
- Posso ficar aqui conversando contigo até achar?
- Pode...

No outro dia pela manhã.

Sabrina acordou e encontrou um bilhete de Rômulo, no lugar em que ocupara na cama, com os dizeres: “Obrigado pela noite. Foi maravilhosa! Tinha um compromisso cedo. Te ligo às 17h. Beijo, Rômulo”. Ao ler, Sabrina colocou a mão na cabeça e falou para si mesma:

- Eu não acredito que caí mais uma vez! Como eu sou burra, meu Deus! Tudo por causa de um ciúme bobo de uma loira que eu nem conheço. Como eu sou idiota! Idiota! Nunca que ele vai ligar...

E, surpreendentemente, às 17h00mim, o telefone tocou. Era Rômulo. Marcaram um jantar para o dia seguinte. Assim que encerrou a ligação, Sabrina pensou:

- Nem tudo está perdido!

E abriu um largo sorriso...


* Jornalista e contista gaúcho


Um comentário:

  1. Quando o roteiro está manjadíssimo, vem o destino e muda alguma coisa. Então fica interessante pela surpresa. Você entende bem de relacionamentos homem-mulher. Que coisa!

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