

Vamos falar do tempo?
* Por Mara Narciso
Quando o silêncio fica pesado, nada como um “parece que vai chover” para quebrar o gelo. Os imbecis recorrem a esse expediente para ocultar o quanto são pouco criativos, mas num elevador quente e abarrotado, não é raro alguém se agarrar ao “mas que calor!” Isso no nosso clima tropical, pois em lugares frios, ao contrário, além de reclamar do frio há a divulgação das fotos da pior nevasca de todos os tempos.
No Brasil, nos locais frios há por hábito utilizar-se dos jornais para ajudar no aquecimento da cama ou das botas, além do tradicional tijolo aquecido ao forno, ou do ferro-de-passar-roupas utilizado sobre os lençóis imediatamente antes de a pessoa se deitar, ou ainda de uma outra esquentar a cama que alguém vai dormir.
Em contrapartida, nos lugares quentes, as pessoas que moram em residência coberta apenas por laje, sem telhado, preferem o frio, pois na época do inverno tropical sobrevivem numa temperatura mais civilizada, abaixo dos 40 graus dentro da casa.
Longe está das pessoas sentirem frio semelhante para a mesma temperatura e local, mesmo sendo nascidas e criadas numa mesma região. É possível aclimatar-se, mas, os homens sentem menos frio do que as mulheres, os jovens, menos frio do que os mais velhos, e as crianças praticamente não sentem frio, pois fazem exercícios boa parte do tempo.
Quando a temperatura se aproxima de zero grau centígrado, dizem, a sensação é de roupa molhada. Caso seja necessário usar, o acúmulo de roupas acaba tornando os braços duros e inflexíveis como os de um astronauta. Há quem goste dessa falta de liberdade.
No verão, os londrinos tiram suas roupas e vão tomar sol no parque quando a temperatura alcança os dez graus, enquanto os esquimós, um pouco mais liberais, arrancam as suas vestes quando a temperatura externa atinge os cinco graus centígrados.
Nessa matéria, não há senso, e muito menos consenso. Sentir frio, segundo a maioria, seria tão bom, que nos primórdios do nosso império, os brasileiros se vestiam igual aos europeus, plagiando o bem vestir dos nobres. Daí o terno ser a vestimenta correta para os momentos oficiais como casamentos, ações na justiça e outras celebrações. Quem gosta diz que o frio é melhor, pois basta colocar agasalhos para ficar confortável. Sem contar que para dormir é mais adequado. Sim, exceto para se levantar às seis da manhã para trabalhar, e mencionando os banhos não tomados.
Não se consegue ficar exatamente chique suando e com a maquiagem escorrendo. Para estes, o calor sim, é insuportável, e nada faz melhorar a sensação de abafamento, e de pele melada. Mesmo assim, os mais antigos sentem saudade da época em que os rapazes não apareciam na casa da futura esposa em manga de camisa, os bancários se trajavam de terno, e mesmo os comerciários dos anos 1930 postavam-se atrás do balcão devidamente “empalotizados” – para brincar com a analogia.
No norte de Minas chove durante quatro a cinco meses ao ano, pouco mais. Não é raro ficar seis meses sem chover. O clima é seco e quente, na maior parte do tempo. No verão, quando não está chovendo, o calor entre dez da manhã e cinco da tarde chega e ultrapassa os 35 graus à sombra. Então, a queixa de calor é o que se ouve durante todo o tempo. Usa-se bermuda pelas ruas afora, consome-se montes de sorvete, água e assemelhados, enquanto a pele sua. Até por isso não são incomuns os três banhos diários.
Com tudo isso, quase ninguém diz gostar do calor, sob pena de ser linchado. Ainda assim, há os impertinentes que chegam à porta de casa, miram a rua ao longe, sob o sol escaldante, e vendo a imagem semelhante à água brilhar no chão, dizem se sentir felizes pelo calor e pela visão do asfalto tremendo.
Mas quando o frio vem de supetão - caso raro-, caindo dez graus na temperatura em pouco mais de uma hora, assusta até as crianças. O padre marcou a missa dos cem anos da avó para as 19 horas, ao ar livre. Era o dia quatro de junho de 2010. Todos de castigo, crianças e adultos tomando sereno, contando os minutos, esfregando e soprando as mãos, enquanto o padre não vinha. O sacerdote apareceu às 21 horas. O frio da noite estava intenso, e tinha pegado muitos fieis despreparados por ter sido a primeira baixa temperatura do ano. Após meia hora de missa, daquelas celebrações que poderiam demorar muito, uma criança, já cansada pela espera e tremendo pelo clima gelado, perguntou chorosa para sua mãe:
-Quando a missa terminar vai ter sol?
Alguém ao lado, ironicamente respondeu:
-Pode ser, mas depende da hora em que a missa acabar.
*Médica, jornalista e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”.
* Por Mara Narciso
Quando o silêncio fica pesado, nada como um “parece que vai chover” para quebrar o gelo. Os imbecis recorrem a esse expediente para ocultar o quanto são pouco criativos, mas num elevador quente e abarrotado, não é raro alguém se agarrar ao “mas que calor!” Isso no nosso clima tropical, pois em lugares frios, ao contrário, além de reclamar do frio há a divulgação das fotos da pior nevasca de todos os tempos.
No Brasil, nos locais frios há por hábito utilizar-se dos jornais para ajudar no aquecimento da cama ou das botas, além do tradicional tijolo aquecido ao forno, ou do ferro-de-passar-roupas utilizado sobre os lençóis imediatamente antes de a pessoa se deitar, ou ainda de uma outra esquentar a cama que alguém vai dormir.
Em contrapartida, nos lugares quentes, as pessoas que moram em residência coberta apenas por laje, sem telhado, preferem o frio, pois na época do inverno tropical sobrevivem numa temperatura mais civilizada, abaixo dos 40 graus dentro da casa.
Longe está das pessoas sentirem frio semelhante para a mesma temperatura e local, mesmo sendo nascidas e criadas numa mesma região. É possível aclimatar-se, mas, os homens sentem menos frio do que as mulheres, os jovens, menos frio do que os mais velhos, e as crianças praticamente não sentem frio, pois fazem exercícios boa parte do tempo.
Quando a temperatura se aproxima de zero grau centígrado, dizem, a sensação é de roupa molhada. Caso seja necessário usar, o acúmulo de roupas acaba tornando os braços duros e inflexíveis como os de um astronauta. Há quem goste dessa falta de liberdade.
No verão, os londrinos tiram suas roupas e vão tomar sol no parque quando a temperatura alcança os dez graus, enquanto os esquimós, um pouco mais liberais, arrancam as suas vestes quando a temperatura externa atinge os cinco graus centígrados.
Nessa matéria, não há senso, e muito menos consenso. Sentir frio, segundo a maioria, seria tão bom, que nos primórdios do nosso império, os brasileiros se vestiam igual aos europeus, plagiando o bem vestir dos nobres. Daí o terno ser a vestimenta correta para os momentos oficiais como casamentos, ações na justiça e outras celebrações. Quem gosta diz que o frio é melhor, pois basta colocar agasalhos para ficar confortável. Sem contar que para dormir é mais adequado. Sim, exceto para se levantar às seis da manhã para trabalhar, e mencionando os banhos não tomados.
Não se consegue ficar exatamente chique suando e com a maquiagem escorrendo. Para estes, o calor sim, é insuportável, e nada faz melhorar a sensação de abafamento, e de pele melada. Mesmo assim, os mais antigos sentem saudade da época em que os rapazes não apareciam na casa da futura esposa em manga de camisa, os bancários se trajavam de terno, e mesmo os comerciários dos anos 1930 postavam-se atrás do balcão devidamente “empalotizados” – para brincar com a analogia.
No norte de Minas chove durante quatro a cinco meses ao ano, pouco mais. Não é raro ficar seis meses sem chover. O clima é seco e quente, na maior parte do tempo. No verão, quando não está chovendo, o calor entre dez da manhã e cinco da tarde chega e ultrapassa os 35 graus à sombra. Então, a queixa de calor é o que se ouve durante todo o tempo. Usa-se bermuda pelas ruas afora, consome-se montes de sorvete, água e assemelhados, enquanto a pele sua. Até por isso não são incomuns os três banhos diários.
Com tudo isso, quase ninguém diz gostar do calor, sob pena de ser linchado. Ainda assim, há os impertinentes que chegam à porta de casa, miram a rua ao longe, sob o sol escaldante, e vendo a imagem semelhante à água brilhar no chão, dizem se sentir felizes pelo calor e pela visão do asfalto tremendo.
Mas quando o frio vem de supetão - caso raro-, caindo dez graus na temperatura em pouco mais de uma hora, assusta até as crianças. O padre marcou a missa dos cem anos da avó para as 19 horas, ao ar livre. Era o dia quatro de junho de 2010. Todos de castigo, crianças e adultos tomando sereno, contando os minutos, esfregando e soprando as mãos, enquanto o padre não vinha. O sacerdote apareceu às 21 horas. O frio da noite estava intenso, e tinha pegado muitos fieis despreparados por ter sido a primeira baixa temperatura do ano. Após meia hora de missa, daquelas celebrações que poderiam demorar muito, uma criança, já cansada pela espera e tremendo pelo clima gelado, perguntou chorosa para sua mãe:
-Quando a missa terminar vai ter sol?
Alguém ao lado, ironicamente respondeu:
-Pode ser, mas depende da hora em que a missa acabar.
*Médica, jornalista e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”.
Eu consigo sentir frio em qualquer lugar. Até no Ceará, na praia! Bateu uma brisa e já me enrolei na canga! Dizem que os magros sentem mais frio! Calor não me faz bem, só se estiver a passeio. Abraços, Mara!
ResponderExcluirNão costumo reclamar do tempo, apenas quando este
ResponderExcluirexcede.
Gosto do calor apesar de ficar mal o dia inteiro. No Rio
não esquenta...ferve.
Adoro o frio(amo) e se pudesse sempre subiria a serra
só pra sentir frio.
Só tenho medo das gandes chuvas, o meu estado já provou
que não está preparado para elas.
Abraços
Adoro o calor e mais feliz fico quando o asfalto está tremulando. Toda temperatura menor do que 24 graus centígrados me exige um agasalho. Nasci no lugar certo. Meninas, agradeço os comentários.
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