segunda-feira, 27 de setembro de 2010




Mataram o nosso Prefeito – 2

* Por Renato Manjaterra


.. No último episódio o Delegado Seccional Osmar Porcelli, depois de tentar montar uma farsa com quatro favelados, apresentou ao judiciário uma peça apontando como o autor do disparo que matou o prefeito Toninho o perigoso Andinho, líder de uma quadrilha especializada em sequestros.
Pois é. Com muito pouco tempo aquela versão esfarrapada de que quatro rapazes, montados em duas motos, tocaiavam a saída do Shopping Iguatemi para roubar Palios e, à resistência de um motorista, teriam atirado, matando o cara e deixando tudo intacto deixou de fazer sentido até mesmo para os cabaços do Correio Popular, que vinham a seu modo ajudando a polícia civil.
Ah! No último episódio um bolinho de policiais havia ido a Caraguatatuba executar quatro outros rapazes - um ou dois deles ligados ao Andinho e os outros, claro, trabalhadores. No último episódio a polícia civil encontrou um Vectra igual ao que as testemunhas viram na cena do crime abandonado na Rodovia Dom Pedro e devolveu o veículo à companhia seguradora. Em algum break comercial do último episódio todas as testemunhas sumiram.
No último episódio o Delegado Porcelli chamou o irmão do Toninho para um canto e afirmou ter indícios de um crime passional e de uma relação extraconjugal homoafetiva do Prefeito, e que por isso, achava melhor deixar o caso “desse jeito mesmo”. Paulinho, o irmão do Prefeito, pediu que a versão fosse divulgada e o delegado nunca mais tocou no assunto.
Este episódio então começa com o Ministério Público recebendo a nova peça ficcional da polícia e passando para a frente, abraçando, processando agora o tal do Andinho pelo homicídio do Prefeito Toninho.
A despeito de toda a fragilidade da nova versão, que sequer chegou a ser passada a limpo, a despeito dos vícios que a mesmíssima equipe demonstrava para proceder a qualquer investigação e a despeito de toda a força das demais hipóteses possíveis para o caso, que foram deliberadamente descartadas pela polícia, esse Ministério Público, composto por playboys arvorados em Elliots Ness a serviço da elite pós-cafeeira da cidade, resolveu aceitar o inquérito e enfiar essa peça ridícula goela abaixo da justiça.
Diversas evidências teriam sido conhecidas pela polícia se depoimentos importantes da viúva, de Secretários Municipais e de pessoas próximas ao Toninho tivessem sido levados em consideração. Um dossiê encomendado pelo Toninho junto à reitoria da USP, sobre uma falsa professora indicada pelo Advogado Roberto Telles Sampaio para fazer parte do Conselho de Segurança da cidade, a senhora Maria Piedade Eça de Almeida, por exemplo, foi a única coisa que sumiu do carro do Prefeito.
Nenhuma menção à renegociação dos contratos de coleta de lixo da cidade foi feita, e estes custaram ao consórcio e à empresa Bauruense milhões de reais.
Nada disso foi para a polícia civil mais importante do que fechar logo a pasta e remeter aos promotores, que se encarregariam do restante da farsa.
Só para os leitores que não conhecem a cidade de Campinas terem uma idéia do que é o Ministério Público de Campinas: na semana passada foi desarticulada pela Polícia Federal uma quadrilha de fraudadores de contratos junto a órgãos públicos. Computadores de uma empresa que tinha como segurança o tal do Alcyr Biason Junior foram apreendidos. Pois na noite seguinte foram furtados de dentro da sede do Ministério.
Da polícia civil de Campinas não se espera nada. Nada de bom. O que eles tinham a oferecer, eles ofereceram. Uma peça de humor negro com quatro favelados torturados para confessar e uma nova peça de ficção onde o Prefeito estaria atrapalhando a fuga de um bandido perigoso e por isso foi alvejado.
Estranha-se um colegiado de promotores de justiça usarem este pomposo nome nos crachás e demonstrarem tamanho desapego pela verdade. Se fossem minimamente competentes eu reputaria cumplicidade com a polícia no homicídio, mas pelos meus poucos anos de convivência com os estudantes de Direito, sei que podem bem ter desempenhado esse papel por puro despreparo, ou medo. Igualzinho aos jornalistas.
Quando essa nova peça de ficção chegou finalmente ao judiciário, encontrou no Dr. José Henrique Rodrigues Torres um crítico e criterioso leitor. Não se sabe se ele chegou a ler toda a fábula, mas ele se recusou a dar andamento à farsa. O Juiz impronunciou o Andinho, o que quer dizer que não aceitou a acusação por estar esta embasada em um inquérito que não para em pé.
O caso continua então em aberto. Para o juiz, não há como proceder ao julgamento de ninguém por este crime porque a polícia simplesmente não cumpriu o seu papel.
Eu não sei agora o que acontece, se mandam esses mesmos policiais escreverem novo conto ou se pode um juiz ordinário determinar a entrada da Polícia Federal no caso.
Sei que esse pedido foi feito por milhares de cidadãos em abaixo assinado e foi entregue pessoalmente pela viúva Roseana Garcia ao Presidente Lula, que prometeu atender.
Diz a lenda que o pedido aguarda sobre a mesa do Procurado Geral da República - já há quatro anos.
A grande quadrilha instalada na Cidade sob o nome de Polícia Civil conta os dias restantes até a prescrição do caso, a 11 de setembro de 2021.

* Jornalista e escritor, webdesigner, colunista esportivo, pontepretano de quatro costados, autor do livro “Colinas, Pará” com prefácio do Senador Eduardo Suplicy, bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCAMP, blog http://manjaterra.blogspot.com

2 comentários:

  1. Tomara que este não seja mais um que siga
    o caminho dos arquivos...
    Abração Renato

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  2. Nubia, a melhor reportagem que eu já li na p. da minha vida foi da Marina Amaral na Caros Amigos. Vale muito a pena!
    Tomara mesmo! Brigadão pela leitura!

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