segunda-feira, 20 de setembro de 2010




Mataram o nosso Prefeito

* Por Renato Manjaterra


Era para na semana passada eu ter aproveitado o espaço do Literário do dia 13 de setembro para lembrar aquela merda que aconteceu em 2001, no dia 10.
Na noite que antecedeu o ataque às torres o Prefeito de Campinas passou no Shopping Iguatemi para buscar um terno, se não me engano, acho que para um compromisso com a filha. E ao sair do estacionamento do shopping Iguatemi ele foi atingido por um só tiro de pistola 9 milímetros. E morreu dentro de seu paliozinho, no “pé” de um outdoor. O carro acho que tinha mais um ou outro buraco.
Eu estava na casa da minha avó quando uma amiga me ligou, logo deu na TV. Meu avô era muito velhinho e quase não escutava, mas acho que ainda identificava aquela vinheta do plantão da Globo tã tã tã tã tã tã tã tã tã... tã tã tã tã tã tã tã tã tã tã tã e arregalou os olhos quando eu disse bem alto: Mataram o Prefeito Toninho!
Fui correndo para a Avenida Mackenzie, pertinho de casa, e cheguei junto com o guincho já. Não vi nada, só bastante gente.
Se eu tivesse chegado dez minutos depois do disparo eu tampouco teria visto qualquer coisa, porque a Polícia Militar, mais precisamente o Soldado Biazon, já havia comunicado a Polícia Civil, particularmente o agente Biazon, irmão do Soldado, do crime e destruído todos os vestígios que pudessem ajudar a esclarecer a autoria.
Já haviam deixado deliberadamente de isolar a área, mexeram no corpo do Prefeito, no carro, e sabe-se lá o que mais.
Estarrecedor, ninguém entendeu. Quando eu cheguei em casa a minha mãe me perguntou tudo e tudo eu disse do que se sabia. Nada se sabia. Minha mãe me perguntou se eu achava que pegariam o cara ou os caras. Eu que conheço um pouco da Polícia Civil de Campinas disse a ela que, por se tratar de um crime de mando, do assassinato do Prefeito da cidade, se prendessem alguém seguramente não era ninguém culpado do crime. E que se matassem alguém é porque acharam.
Pois é. No dia seguinte foi instaurado o inquérito e quando esse inquérito estava a dois dias dos trinta que ele tinha por prazo ordinário, a polícia resolveu prender alguém.
Foram então o Cláudio Alvarenga, o Lazinho e mais uns tiras conhecidões na Zona Leste pegar uns caras que estavam soltos, daqueles de “reputação ilibada” que tanto servem à Polícia quando se precisa de um lagartinho para assinar uma bronca.
Eram quatro moleques que a Polícia inventou que estariam em duas motos com duas pistolas para roubar o mesmo Palio! E na saída do shopping deram no carro do Prefeito, que fugiu deles e daí então é que um deles deu aquele tiro.
O engraçado é que, até esse dia, a Polícia começou a construir essa hipótese através de entrevistas e releases que faziam a imprensa local “levar de recado” ao povo da cidade. E a reportagem do único jornal local, como se diz, “abraçou com as dez” a conversinha mentirosa escandalosa do senhor Osmar Porcelli, Delegado Seccional, do Delegado Alvarenga e de tantos outros, que sustentavam a história dos quatro em duas motos como se fosse crível!
Enquanto isso, novas provas foram sendo destruídas. Testemunhas várias disseram ter visto um Vectra ultrapassar vários carros naquela hora, outras viram o Vectra emparelhar com o Palio onde o Prefeito estaria, mas todas elas sumiram. No primeiro depoimento elas simplesmente desapareceram. Nem este foi tomado. Olha só que azar que a Polícia Civil estava tendo nesse caso...
Um Vectra roubado em Campinas chegou a ser apreendido na Dom Pedro. E a Polícia Civil devolveu o carro para a Seguradora. Juro. Isso está documentado!
Lembra que eu disse para a minha mãe que se a polícia prendesse não era? E que Se matasse era?
Então. Um bolinho de policiais civis de Campinas se juntou e desceu a serra até Caraguatatuba, chegou na surdina em um condomínio, estourou a janela de uma casa e chacinou, deitados, quatro rapazes.
Mais que isso, cada um diz uma coisa. Na época os pistoleiros disseram que era um serviço de investigação da Delegacia Anti Sequestro, mas tinha gente de tudo que é polícia. E se fosse qualquer tipo de serviço a polícia de Caraguá teria de ser avisada. Os policiais foram é escondido mesmo. E ainda disseram que eram quatro, mas há provas da participação de bem mais gente.
É claro que esta ficção nunca se sustentaria em pé. Chegou um ponto em que nem mesmo os autores acreditavam. E o Judiciário logo fez com que a Polícia Civil voltasse à prancheta para desenhar outra fábula.
E a Polícia Civil de Campinas, o máximo que conseguiu pensar de melhorzinho que isso era em um bandido famoso que poderia estar passando por lá naquela hora... O Andinho.
O que ele estaria fazendo lá e porque teria atirado uma vez no Prefeito naquele dia, parece que eram perguntas que os policiais nem se fizeram. Parece que fazia sentido para eles que o Bandidão, em um Vectra prata, estivesse em fuga de uma outra trapalhada e abrisse fogo contra um tiozinho de Palio.. Foi o que deu para eles inventarem. Novamente “prenderam os suspeitos de sempre” e o ciclo vai indo.
Acontece que enquanto a Polícia não escrever algo que preste em termos de investigação séria, tem um Juiz que está cuidando do caso que já disse e demonstrou que não vai levar a sério essas conversinhas de polícia ou de policial. Se ao Meritíssimo Dr. Torres tivesse sido apresentada a versão da Polícia de que eram quatro em duas motos ele teria dado altas gargalhadas e/ou mandado prender o butequeiro.. E, na história do Andinho, o Juiz resolveu impronunciar o acusado. Resumindo: mandou a Polícia Civil de vote ao trabalho.

* Jornalista e escritor, webdesigner, colunista esportivo, pontepretano de quatro costados, autor do livro “Colinas, Pará” com prefácio do Senador Eduardo Suplicy, bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCAMP, blog http://manjaterra.blogspot.com

2 comentários:

  1. Complicado...quanto mais se fuça, mais se omite.
    Onde vai dar isso?
    Abraços

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  2. O Pedro suprimiu: "Continua..."

    É Nubia... quem matou eu acho que infelizmente não tem mais como achar, mas é menos importante do que quem mandou e esse eu tenho certeza de que ainda dá.

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