segunda-feira, 27 de setembro de 2010











O ipê branco

* Por Aliene Coutinho





No meio do cerrado castigado pela seca parecia até uma visão. As flores brancas contrastavam com o cinza das queimadas. Um ipê branco. E florido. Era quase um milagre. Ao seu redor havia um manto branco, sinal que suas flores já começavam a cair. O ipê branco, diferente dos de outras cores que se exibem por até uma semana, floresce por apenas dois dias. E pelo visto aquele era o último.
Por anos tentei registrar essa imagem. Quantas não foram as vezes que adiei a foto por falta de tempo, por preguiça de voltar em casa e pegar a máquina. Seria agora ou nunca. Afinal estava ali, na esquina de casa e tão bonito.
Em época de seca, os ipês de Brasília aliviam a paisagem, colorem, refrescam a visão quando florescem as margens das pistas, nos parques, no meio do mato. Com uma temperatura média de 30 graus, umidade em torno de 18 por cento, e sem chuva a mais de 100 dias, nada como se deparar com ipê, e branco então, é quase um brinde à vida. Símbolo da resistência.
E ali estava ele, em pleno sol de meio-dia. Sem pressa de despir-se, esperava por mim. Ajoelhei na terra vermelha e capturei sua alma numa Sony digital. Fiz o foco e o retratei em ângulos diferentes. Conferi o resultado satisfeita em saber que logo ia poder compartilhar com quem quisesse aquele instantes da natureza. E ao sair, andando de costas para guardá-lo também na memória fui presenteada com uma das flores que voou e pousou em meus cabelos.

* Jornalista e professora de Telejornalismo

3 comentários:

  1. Nossa, como está difícil para postar hoje...

    Sorte a sua Aliene e uma benção presenciar
    um ipê florido.
    Abraços

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  2. A leveza de um prazer como este dá alegria e paz para uma semana inteira, ou mais.

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  3. Que crônica linda, Aliene! Acho que nunca vi um ipê branco...Lembrei-me de uma crônica da Clarice Lispector em que ela conta que sempre caiam folhas sobre ela, e que um dia uma pequenina folha caiu sobre suas pálpebras, e que ela considerou aquilo um gesto de grande delicadeza de Deus.Parabéns!
    Beijos

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