terça-feira, 21 de setembro de 2010




Nostalgie et une Chanson Désespérée

* Por Risomar Fasanaro

Guilem Rodrigues da Silva, poeta gaúcho, recebeu recentemente o “Grand prix International Solenzara de poesie 2009”, com o livro “Nostalgie et une chanson desespérée”.

Mas este não é o primeiro prêmio que este grande poeta recebe. Na verdade, nos últimos anos ele vem recebendo muitos prêmios por suas obras. Nostalgie et une chanson desespérée é o registro da dor de um exilado. Traduz a revolta e a saudade não só explícita nos versos, mas também nas entrelinhas dos poemas.

Em “Claros sonâmbulos da Noite”, o poeta nos remete à “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias. Aqui, parece-nos, mais do que mulher, é à pátria que ele refere.

(...) Saudade é para nós mais do que palavra bela
Contém inverno céu cinzento branca neve
Olhares esculturados na janela
Somos claros sonâmbulos numa noite longa
Voltando sempre à tua cama
Mas ao chegarmos perto
Quase tocando teu seio
Uma manhã estranha nos desperta
Em leito alheio
Ainda e sempre em viagem
Mulher amada
Nós os que saímos
Não te amamos menos do que os que ficaram
(“Claros Sonâmbulos da Noite”)

Guilem é gaúcho, da cidade de Rio Grande, e tem seus livros publicados na Islândia, Inglaterra, França, México, Cuba, Estados Unidos, Dinamarca, Noruega, e se você, leitor, não o conhece, nunca ouviu falar dele, não se sinta constrangido.Embora brasileiro, ele foi forçado pelo golpe de 1964 a viver fora do Brasil.

É...É isso: além das prisões, torturas e mortes que a ditadura nos impôs, houve também a perda de algumas das cabeças mais brilhantes do país: cientistas, músicos, poetas...quantos ainda vivem lá fora e nem sequer sabemos?

Ainda muito jovem, oficial da Marinha brasileira, Guilem saiu do Brasil primeiro para o Uruguai, e depois para a Suécia. Foi ele o primeiro da geração 68 a viver no exterior, e lá, sua casa era uma espécie de extensão da embaixada brasileira, já que era ele que recebia nossos exilados e os abrigava até acertarem suas vidas.

Com o passar dos anos, o poeta constituiu família e tornou-se difícil voltar à sua pátria.
Mas é ao Brasil que vem todos os anos, principalmente ao Rio Grande do Sul, sua terra natal, e é uma imagem que faz parte da cultura do Rio Grande que ele escolheu para homenagear seu país.

Detendo-nos na capa percebemos que ela diz muito dos sentimentos do poeta nesta obra: um velho acordeon empoeirado, com suas teclas encardidas, a denunciar que o tempo passou, que há muito já não toca. É o Rio Grande longínquo e perdido o que talvez de melhor traduza a saudade do eterno exilado.
“Nostalgie et une chanson désesperée- Poemas do Exílio” originalmente recebeu e português o título de “Saudade e uma Canção desesperada”, em uma edição da Cabincla, Bahia, 2002.
Agora a obra que recebeu o prêmio internacional Solenzara de poésie em 2009 foi traduzida para o francês por Marc Galan e Athanase Vantchev de Thracyé. Trata-se de uma edição bilíngüe,em português e francês.
E para encerrar este comentário, deixo um trecho daquele que considero o mais belo poema desta obra:

O Meu Idioma

Quando eu digo “terra” em português
Esses dois “rr” soam em meus dentes
Como partículas de terra
Flor floresce em meus lábios
“mane” será mais bonita que “lua”
Mas nunca “hav” do que “mar”
Com suas praias sem fim
Onde cada raio de sol
Transforma um grão de areia num diamante
O meu idioma é minha garantia de vida
Uma constante lembrança
De dor
De alegria
De raiva
(......)

Que Guilem Rodrigues da Silva encontre no Brasil os seus leitores.Sua poesia merece.


* Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.

4 comentários:

  1. Confesso Riso que não o conhecia e
    te agradeço por apresentá-lo.
    Beijos

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  2. Prazer em conhecê-lo. E entre os diamantes refletidos na areia da praia, um quase se perdeu: Guilem Rodrigues. Mas foi encontrado pela literatura e nos foi apresentado por você, Risomar.

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  3. Pois é, Núbia, um poeta com todo este talento se vivesse no Brasil, com certeza seria muito conhecido.
    Obrigada por sua atenção.
    Beijos

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  4. Oi, Mara, obrigada pelo belo comentário.
    Beijos

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