quinta-feira, 9 de setembro de 2010




Don’t touch me!

* Por Fernando Yanmar Narciso



E lá se vão quase 10 anos desde que o mundo foi dividido... Sim, bastou um único dia para o auto-proclamado “melhor país do mundo- e quiçá do universo” descer do pedestal. Aposto que ninguém mais se lembra daquela velha imagem dos “Estados Unidos” como terra da oportunidade, do otimismo, onde você podia dizer e fazer tudo o que quisesse e, desde que não prejudicasse ninguém, construir seu pé de meia e até chegar à presidência.
Bem, essa imagem morreu. Bastou um bando de trogloditas de turbante para trazer a “humildade” de volta ao país. Se a motivação dos terroristas era uma causa justa ou não, quem somos nós para julgar? Mas é fato que existem EUA antes e depois do 11/9. Desde então, os americanos se transformaram em verdadeiras bombas-relógio ambulantes. Assustadoramente estressados, tarados por cafés servidos em copos de quase 1 litro, Red Bull, anfetaminas e qualquer outra substância que os deixe paranóicos e ligados 24 horas por dia, sem conseguir dizer uma única frase sem incluir um palavrão.
Hollywood demonstra isso muito bem. Nos últimos oito anos, filme pra fazer sucesso tem que ser lotado de linguagem obscena e gente estourada. Passar 5 minutos de qualquer filme sem ouvir um “muthafucka”, um “asshole” ou um “I’ll kick your ass” é tão raro quanto ver Roberto Carlos de sunga. Todos os heróis de filme de ação tornaram-se exércitos de um homem só, e únicas forças do mundo capazes de vencer o terrorismo, numa analogia perfeita ao governo Bush. Quer dizer, até o Batman agora é um super-soldado que anda de tanque sobre os telhados de Gotham!
Eles sempre se orgulharam de sua Constituição, e de todas as liberdades que ela garante, em especial a liberdade de expressão. Agora ela não passa de um sonho distante. Com a era Bush, veio a era dos ataques à liberdade. Qualquer coisa dita por alguém que vá contra os pensamentos do governo e do tal American Way é duramente rechaçada por todo o país.
Meu pai sempre disse que não existe ninguém mais mal- humorado que o povo norte- americano. Qualquer besteira para eles é motivo para se levantar em armas.
Tornou- se célebre o caso do comediante/ entrevistador e ateu fervoroso Bill Maher. Ainda no calor do 11/9, ele soltou em seu programa que “no ponto de vista dos terroristas, o ataque não tinha sido um ato de covardia, mas de bravura”. Duramente crucificado por todos, até ameaçaram tirar seu programa do ar. Por sorte não o fizeram, mas as coisas só pioraram desde então. Escolas para imigrantes árabes tiveram suas portas fechadas, sendo falsamente acusadas de “subversivas” e “formadoras de terroristas”, andar pelo campus com camisetas contendo mensagens provocantes passou a ser proibido, manifestações políticas de cunho pacífico são duramente rechaçados pela polícia como nos movimentos estudantis dos anos 60.
Na era Bush, a única indústria que permaneceu crescendo e prosperando a cada ano que se passou foi a indústria do medo. Para os republicanos, pessoa apavorada e com os nervos à flor da pele é mais fácil de controlar e manter sob a sombra da chibata. Logo após os ataques, alguém veio com aquela idéia dos níveis de alerta baseados em cores. Acho que os americanos nunca passaram um único dia em alerta verde ou azul, os menos “arriscados”. E se passaram é claro que o governo mascarou, para que ninguém relaxasse e continuassem todos se matando na rua de tanto stress.

* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com

2 comentários:

  1. Meu aniversário é doze de setembro. Escapei por um triz de ter o meu dia relacionado com um momento tão terrível para o povo americano.

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  2. Por que será que os documentários do
    Michael Moore não me surpreendem?
    Ótimo texto Fernando.
    Abração

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